segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Conflito

Entre as várias consequências geradas pelo fim da bipolarização entre comunismo e capitalismo, com a queda dos regimes de esquerda entre o final dos anos 80 e início dos 90, uma das mais absurdas foi a tentativa de disseminar o conceito de que as ideologias tinham acabado. Como se fosse possível que, de uma hora para outra, todos os bilhões de seres humanos que habitam a Terra passassem a se moldar por um pensamento único. Ora, a própria definição de ideologia diz tratar-se de "maneira de pensar própria de um indivíduo ou grupo de pessoas". Decretar o fim das ideologias só seria possível se as pessoas deixassem de ser racionais, sendo movidas unicamente pelo instinto, semelhantemente a outros seres vivos. Assim não entendeu a grande imprensa, que, desde o fim da chamada "Cortina de Ferro" apregoou o fim do conflito ideológico e a prevalência, sem contestações, de idéias como o estado mínimo, as privatizações, a flexibilização das leis trabalhistas e tantas outras medidas tão ao gosto dos que se guiam pelos preceitos de direita. Pois eis que, em meio a aridez desse tipo de discurso, surge uma voz discordante e corajosa. O novo presidente da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado Adão Villaverde (PT) diz que incentivará o embate firme de ideías entre deputados de situação  e oposição . Villaverde declarou que uma coisa que o incomoda muito na política gaúcha atual é a ideia de eliminar o conflito. O deputado afirma não temer o conflito e considera o fim dos embates políticos um ataque à democracia. Villaverde vai mais além e diz que uma sociedade sem conflito é amorfa e subordinada. Há muito tempo não se tinha conhecimenmto de declarações tão lúcidas e pertinentes feitas por um político. Adão Villaverde tem inteira razão. Não passa de mais um artifício das forças reacionárias da sociedade a ideia de que, em nome de pretensos interesses maiores da coletividade, se deva perseguir uma postura única. O próprio termo "parlamento", já demonstra que as casas legislativas não são meras proponentes e fazedoras de leis, mas também um local onde devem ser debatidas as questões mais importantes que envolvem o poder público e os cidadãos. No passado, inclusive, tivemos grandes tribunos que empolgavam as galerias com suas manifestações em plenãrio acerca das grandes questões políticas e sociais do país, estados e municípios. O desaparecimento de tais figuras é mais uma evidência do empobrecimento cada vez maior do nível da política praticada no país. Chega de buscar um só discurso. Passemos ao debate acalorado e produtivo, pois como disse, também, Villaverde," as opiniões opostas são as melhores coisas da democracia". Estou de pleno acordo.

Um bom Gre-Nal

Acima de tudo, o Gre-Nal realizado em Rivera foi um jogo bom de ser assistido. Os jogadores de Grêmio e Inter se mostraram aplicados o tempo inteiro, buscando o resultado, ou seja, mesmo quando pudesse faltar uma melhor técnica, sobrava vontade. Apesar de ter perdido duas boas chances de gol, o Grêmio não esteve bem no primeiro tempo, o que ocasionou que o Inter saísse na frente, fazendo 1x0 no placar. Porém, as substituições feitas pelo técnico Roger Machado, durante o segundo tempo, tirando Vílson e Mithyuê, colocando William Magrão e Lins, respectivamente, mudaram a face do jogo. O Grêmio passou a mandar na partida inteiramente e só não fez mais gols devido a grande atuação do goleiro Muriel. O futebol também é feito de detalhes e eles, novamente foram decisivos. Numa falha grotesca da defesa do Grêmio, quando o clássico ainda estava empatado em 1x1, Ricardo Goulart perdeu um gol feito para o Inter. Já quando a falha foi do Inter, numa vergonhosa rosca de Natan, Lins não perdoou e fez 2x1 para o Grêmio. O jogo teve como grandes destaques individuais os dois goleiros, Marcelo Grohe e Muriel, que fizeram várias defesas espetaculares. Bruno Collaço talvez tenha feito sua melhor atuação com a camisa do Grêmio. Lins se mostrou um atacante ágil e arisco. No Inter, Guto comprovou seu faro de goleador. O destaque negativo fica, de novo, com Diego Clementino. Em mais uma atuação confusa, conseguiu perder três chances claras de gol. O incrível é que houve até uma emissora de rádio de Porto Alegre que o escolheu como melhor jogador em campo! A se lamentar, por fim, a ausência do público, o que só fez confirmar o que já se sabia, isto é, o Gre-Nal de Rivera, fora de campo, foi mal planejado e pior executado, a começar pela data. As dependências quase vazias do estádio Atílio Paiva foram a nota destoante de um bom Gre-Nal.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Desamparado

Os políticos seguem a nos fornecer, a cada dia, mais motivos para seu descrédito perante a sociedade. Deixam claro que, para eles, a chamada "vida pública", nada mais é do que um balcão de negócios ou um cabide de empregos, ou ambas as coisas. Agora, mais um exemplo disso ocorre em Porto Alegre. O prefeito José Fortunati decidiu substituir o secretário municipal do Meio Ambiente. Até aí, nada demais, afinal, é uma prerrogativa do chefe do poder executivo. Ocorre que o atual secretário, Carlos Alberto Garcia, é também vereador e, quando deixar o cargo, reassumirá sua cadeira na Câmara Municipal. Dessa forma, o suplente Paulo Marques, que atualmente exerce a condição de vereador, perderá a cadeira. Preocupado com o fato, o PMDB já prometeu a Paulo Marques que não o deixará desamparado. Como assim? Um suplente é alguém que não conseguiu votos suficientes para se eleger e, como tal, tem de saber que, sempre que vier a assumir uma cadeira, será de forma transitória. O que significa não deixar desamparado? Arrumar uma "boquinha", um cargo bem remunerado de "assessor para assuntos especiais" em alguma empresa pública? O noticiário nos mostra, quase todos os dias, casos semelhantes. Os partidos tratam de socorrer aqueles que perdem seus mandatos ou não obtem reeleições. Como se o exercício de um mandato eletivo, uma vez alcançado, se tornasse num direito vitalício a ser remunerado pelos cofres públicos e não, como verdadeiramente tem de ser, uma condição revogável a partir da vontade dos eleitores. A política, desse modo, transforma-se numa ação entre amigos, com troca de favores e concessões de privilégios, onde o único desamparado é o cidadão comum.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A crise do Vasco

O Vasco, um dos grandes clubes brasileiros, detentor de uma das cinco maiores torcidas do país, vive, já há algum tempo, uma grande crise. Ao contrário de outros clubes de expressão do futebol brasileiro que, ao serem rebaixados, voltaram fortalecidos para a primeira divisão, o Vasco teve um pífio desempenho no Campeonato Brasileiro de 2010. Agora, a situação parece ter chegado ao ápice. O Vasco perdeu seus três primeiros jogos no Campeonato Estadual do Rio de Janeiro, todos para clubes pequenos. Os problemas do clube começam, é óbvio, pela fragilidade do time. Apesar da insuficiência técnica do time em 2010, o Vasco pouco se reforçou em 2011. Porém,  a explicação para a crise vascaína não se resume a isso. Roberto Dinamite, um dos maiores ídolos da história do clube, senão o maior, está, claramente, fracassando como presidente.  O presidente anterior, Eurico Miranda, tão odiado por tantos, conquistou muitos títulos para o Vasco. O que só prova que, no futebol como na vida, não bastam boas intenções. O fato de ter sido um grande nome do Vasco como jogador não habilita Roberto Dinamite para ser um bom presidente. O futebol fora das quatro linhas é muito diferente daquele que é jogado dentro do campo. Para ser um presidente vencedor é preciso mais do que caráter e boa vontade. É preciso competência específica para administrar e isso não se aprende dentro do gramado. Urge que se faça algo para reverter a situação do Vasco, pois a crise de um grande clube não afeta só a sua torcida. Como patrimônios que são do futebol mais vitorioso do mundo, os grandes clubes brasileiros, quando em crise, atingem a estrutura do futebol do país como organização e negócio. O Vasco precisa se recuperar, pelo bem não só dos seus torcedores, mas de todo o futebol brasileiro.

Ronaldo

Não bastasse a forma física incompatível com um jogador profissional, a ausência de gols, o grande número de jogos do Corinthians dos quais não participa, as constantes lesões, agora Ronaldo resolveu trocar farpas via Twitter com profissionais da imprensa, mais especificamente, da Rede Bandeirantes, o que nada poderá lhe trazer de benéfico. Ronaldo teve uma brilhante trajetória como jogador, bastando dizer que é o maior goleador da história das Copas do Mundo, mas não está sabendo encaminhar o final da sua carreira, a exemplo de tantos outros astros do futebol. A continuar assim, talvez não devesse esperar nem o final do ano, ocasião em que prometeu parar de jogar. Como as manchetes que tem gerado, ultimamente, não dizem mais respeito ao futebol jogado em campo, mas sim a fofocas ou polêmicas, Ronaldo poderia parar já. Assim, se preservaria de situações constrangedoras como a declaração de um jogador do Tolima de que não trocou a camiseta com ele para que Ronaldo não tivesse de expor em público o seu ventre avantajado.

Rodolfo

O Grêmio contratou o seu primeiro reforço de expressão em 2011, o zagueiro Rodolfo. Depois de trazer Lins, um típico jogador de grupo, e Vinícius Pacheco, que fez uma péssima estréia contra o Liverpool do Uruguai, o clube traz um reforço de peso. Aliás, pelo que se viu da zaga do Grêmio contra o Liverpool, é um reforço que chega em muito boa hora. Depois de tantas decepções no início de ano, a torcida gremista, finalmente, ganha algum alento.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Perspectivas sombrias

Em que pese, em termos de regulamento, o resultado ter sido bom, o empate do Grêmio com o Liverpool do Uruguai em 2x2, no estádio Centenário em Montevidéu, deve ter deixado a torcida gremista com muitas preocupações. Depois de um primeiro tempo razoável, em que esteve duas vezes com a vitória parcial, o Grêmio realizou um segundo tempo deprimente, no qual foi totalmente dominado por um adversário tecnicamente modestíssimo. Afora a boa presença de área de André Lima e alguns lampejos de Douglas, quase nada se viu no Grêmio. Na defesa, Gabriel não jogou nada, Paulão se limitou a dar chutões, Rafael Marques também não teve boa atuação e Gílson foi lamentável. No meio de campo, Fábio Rockembach esteve apagado, Vílson mostrou, novamente, que não é do lugar e Lúcio ainda está totalmente fora de forma. No ataque, Júnior Viçosa foi inexpressivo, como já está se tornando rotina. Os três jogadores que entraram no segundo tempo nada fizeram. Vinícius Pacheco foi horroroso e, mesmo que seja apenas seu primeiro jogo, seu futuro não parece promissor. Diego Clementino nada fez e Lins praticamente não tocou na bola. Deixei por último o goleiro Vítor. O primeiro gol que ele sofreu é inaceitável para um goleiro da sua qualidade. Mais uma vez, Vítor comprova que é um jogador sem estrela, que falha quando não poderia fazê-lo, isto é, nos jogos mais importantes e decisivos. O contrário  acontecia com Danrlei, seu companheiro de posição, e com seu atual técnico, Renato,  como atacante, que cresciam de produção justamente nos grandes jogos e, por isso tornaram-se ídolos do Grêmio. Em resumo, só o resultado foi bom. O futebol apresentado pelo Grêmio só serviu para assustar o seu torcedor.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Legal e legítimo

A polêmica envolvendo as pensões pagas para ex-governadores traz de volta uma antiga questão, a da diferença entre o que é legal e o que é legítimo. Muitos dos ex-governadores beneficiados argumentam que a pensão que recebem está prevista em lei, como se isso, por si só, a justificasse. Ora, basta que algo esteja amparado por uma lei para que possua, obviamente, a condição da legalidade. Porém, sabemos todos, no cipoal de leis criadas pelos homens, algumas são esdrúxulas, outras bizarras ou excêntricas e há, também, as que são francamente injustas. Chegamos, então, a questão da legitimidade, que só é alcançada se a lei estiver ancorada no senso moral coletivo. Sendo assim, como considerar aceitável que, após um mandato de apenas quatro anos, alguém passe a receber uma aposentadoria ou pensão, enquanto o trabalhador comum precisa contribuir por 35 anos para obter o mesmo benefício? Afora isso, nos quatro anos em questão, os governantes, além de receberem um bom salário, ainda são isentados de despesas com moradia, transporte, saúde e alimentação, justamente as que mais depauperam os ganhos do cidadão comum. Pelo mesmo motivo, não cabe argumentar, como já fizeram alguns, de que o gasto com tais aposentadorias não é significativo e que, portanto, sua supressão não representaria uma economia expressiva para os cofres públicos. Não se trata de saber se tais pensões são amparadas por lei, nem se os gastos com as mesmas são volumosos ou não. Sua extinção se impõe porque elas ferem o senso moral coletivo, acima referido. Representam, em verdade, não um direito, mas um privilégio conquistado por quem pode mais em detrimento de quem pode menos. Ainda que sejam legais, são, claramente, ilegítimas.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Naufrágio

O conteúdo do texto "Trapalhadas", que escrevi há apenas dois dias, tornou-se ainda mais pertinente depois do ocorrido hoje no Grêmio. Ao meio-dia, como uma bomba que desaba sobre a cabeça do torcedor, veio a notícia de que Jonas estava fora do Grêmio e que iria jogar no Valência, da Espanha. Em mais uma demonstração de absoluta inépcia, dessa vez conjugando as ações da antiga e da atual diretoria, o clube deixou escapar o goleador do Campeonato Brasileiro de 2010 e que, junto com o craque Neymar, do Santos, foi quem mais marcou gols no país no ano passado, num total de 42. Pior do que isso, Jonas sai do Grêmio com o clube recebendo, em reais, algo em torno de 2 milhões e 800 mil. Uma quantia irrisória para um jogador de tamanha importância. A diretoria anterior, ao prorrogar o contrato de Jonas até o final de 2011, aceitou estipular uma multa rescisória baixíssima. O ex-presidente Duda Kroeff disse que foi uma exigência do jogador e que, caso o Grêmio não aceitasse, ele não estenderia o seu contrato com o clube. Assim, o Grêmio repete, no caso em questão, a mesma atitude quando da saída de jogadores como Renato e Ronaldinho, que deixaram o clube em grande momento das suas carreiras, sem que os cofres da instituição recebessem a devida contrapartida. Em menos de um mês de trabalho efetivo da atual diretoria, é o segundo "mico" que o Grêmio paga, junto com o fracasso da negociação de Ronaldinho. Some-se a tudo isso a confusão envolvendo a vinda de Vinìcius Pacheco, o insucesso na tentativa de trazer Rodolfo e Gilberto Silva e a ausência de grandes contratações. O que se tem, então, é que uma administração que reunia enorme expectativa positiva por parte da torcida, caminha, já no seu início, na direção do naufrágio.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Sem novidades

A atuação do Grêmio, na tarde de domingo, na vitória de 1x0 sobre o Canoas, fora de casa, não apresentou novidades em relação ao desempenho do time. Mesmo reforçado por três titulares, Vítor, Adílson e Lúcio, o Grêmio apresentou um futebol modesto, ganhando com um gol de pênalti. Lúcio se mostrou desembocado, Clementino continuou confuso, Júnior Viçosa, apesar do gol, jogou muito mal e Roberson ainda não confirmou os bons prognósticos feitos sobre ele. Positivo, mesmo, só o rendimento de Mário Fernandes, que voltou a exibir um belo futebol. No geral, o Grêmio mostrou muito pouco e, quer seja com titulares ou com reservas, precisa melhorar muito.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Trapalhadas

A atuação do departamento de futebol do Grêmio, nos primeiros dias da nova administração do clube, não poderia ser mais lamentável. Depois de concentrar energias durante quase um mês na tentativa de contratação de Ronaldinho, pagando um "mico" nacional com o fracasso da negociação, viu suas duas outras buscas de jogadores renomados, Rodolfo e Gilberto Silva, igualmente fracassarem. Não bastasse isso, quase perdeu Vinícius Pacheco por questões jurídicas, tendo que negociar com o Flamengo para ficar com o jogador. A única contratação tranquila foi a de Lins, um jogador de currículo inexpressivo. O vice-presidente de futebol do Grêmio, Antônio Vicente Martins, de mau desempenho no mesmo cargo na administração do ex-presidente José Alberto Guerreiro, parece, a cada dia, confirmar a máxima de Aparício Torelly, o Barão de Itararé, grande humorista brasileiro dos primórdios do século passado: "De onde menos se espera é que não sai nada mesmo".

Normalidade

Os resultados dos jogos de Grêmio e Inter, sexta à noite e sábado à tarde, ficaram na mais absoluta normalidade, pois ambos jogaram em casa, contra adversários modestos. No entanto, o bom futebol, mais uma vez, não apareceu. O Grêmio perdia para o São José até os 31 minutos do segundo tempo e o Inter venceu o Santa Cruz por um magro 1x0, auxiliado por uma falha do goleiro. O jogo do Grêmio, porém, mesmo com o futebol inconvincente, apresentou alta voltagem emocional. Tudo devido ao fato de Jonas, ao marcar o primeiro de seus dois gols, ter se dirigido para a torcida que ocupava o setor das sociais fazendo gestos agressivos e proferindo palavrões. A atitude de Jonas foi motivada pelas vaias que recebia a cada jogada que errava. Foi o que bastou para que a torcida, a partir de então, o vaiasse a cada vez que tocasse na bola. Dessa forma, um jogo que tinha tudo para ser morno, como tantos do Campeonato Gaúcho, acabou gerando polêmica e discussões. No entanto, tudo deverá ser contornado sem maiores problemas. Problema mesmo é o parco futebol jogado pelo time contra mais um adversário de pouca expressão, o que faz com que a partida contra o Liverpool do Uruguai já não pareça tão fácil quanto se chegou a imaginar. Já o Inter B obteve mais uma vitória em casa, novamente por 1x0. O futebol jogado, porém, ficou, outra vez, abaixo de qualquer expectativa. O que só reforça a idéia de que o time principal, mais cedo ou mais tarde, irá participar do Campeonato Gaúcho, ao contrário do que vinha sendo apregoado pela diretoria do clube.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O talento de George Harrison

A revista Rolling Stone lançou uma edição especial com as 500 maiores músicas internacionais de todos os tempos, escolhidas por um júri formado por 162 pessoas, entre artistas, produtores, executivos da indústria fonográfica e jornalistas. Listas como essa carregam, invariavelmente, alguma dose de subjetividade e dão margem a muitas discussões. Em função disso, prefiro pinçar um aspecto em particular. Refiro-me a participação na lista do tantas vezes subestimado George Harrison. São de George duas das 23 músicas dos Beatles incluídas entre as 500, "Something"e "While My Guitar Gently Weeps". Parece pouco? Saiba, então, que em toda a discografia regular dos Beatles, George Harrison teve apenas 22 composiçoes de sua autoria gravadas pelo grupo. Já John Lennon e Paul McCartney incluíam, a cada novo LP, cerca de dez músicas assinadas pela dupla. Outro fato, ainda mais significativo, é o número de músicas da carreira solo incluídas na lista. Cada um dos três entrou com uma. John com "Imagine", Paul com" Maybe Im Amazed," e George com "My Sweet Lord". Como beatlemaníaco assumido, acho importante destacar o talento de George Harrison, muitas vezes subdimensionado. Além de grande guitarrista, George também era um bom compositor, como prova sua participação na referida lista. Aliás, se alguma dúvida restasse sobre a capacidade de George, bastaria lembrar as palavras de Paul McCartney, quando de sua recente vinda ao Brasil. Em entrevista para a revista Veja, analisando os integrantes do mítico grupo ao qual pertenceu, disse que John era o mais durão, que ele, Paul, era o mais criativo e ousado, mas que, como músico, George era o melhor dos Beatles. Vindo de quem veio, um argumento incontestável.

Rivaldo

O jogador Rivaldo, campeão da Copa do Mundo de 2002 pela Seleção Brasileira, está de volta ao Brasil. Rivaldo voltou para, em princípio, acumular a condição de presidente e jogador do Mogi-Mirim, clube do município homônimo do interior de São Paulo. Há poucos dias, Rivaldo reclamou de uma suposta ingratidão do técnico do Palmeiras, Luiz Felipe, o Felipão, seu treinador na Copa de 2002. Ocorre que Rivaldo indicou Felipão para trabalhar no Bunyodkor, do Usbequistão, onde atuava como jogador. No entanto, quando decidiu retornar ao Brasil, Rivaldo não teve sua contratação pelo Palmeiras aprovada por Felipão, daí a sua mágoa. Agora, cogita-se que o São Paulo poderia estar contratando Rivaldo. Deixando de lado qualquer análise subjetiva e olhando apenas o futebol, Felipão está certo. Errado está o São Paulo. Rivaldo foi um grande jogador, mas, aos 38 anos, não mais poderá corresponder às exigências de um clube com as aspirações do São Paulo. A cogitação de sua contratação já demonstra que o clube multicampeão talvez esteja passando por uma crise financeira muito severa, que não lhe permita sonhar com jogadores jovens e caros. A verdade é que o tempo passa para todos, até para os grandes jogadores. Como jogador, Rivaldo já pertence ao passado. Aperceber-se disso, ao invés de cultivar ressentimentos, só iria lhe fazer bem.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Compras, vendas e especulações

Finalmente, as contratações e vendas de jogadores, na dupla Gre-Nal, começam a sair do terreno meramente hipotético. No Inter, Giuliano, o melhor jogador da Taça Libertadores da América de 2010, mesmo sem ser titular, foi vendido para o Dnipro, da Ucrânia. Zé Roberto, ex Botafogo e Flamengo, que estava no Vasco, parece que vem mesmo. No Grêmio, a vinda de Rodolfo está mais próxima. Até os clubes do interior estão fazendo contratações de relativo peso, como é o caso do Novo Hamburgo, que contratou o goleiro Eduardo Martini, que foi revelado pelo Grêmio e estava na Ponte Preta, e do Pelotas, que trouxe o volante Makelelê, com passagens por Grêmio e Palmeiras. O mercado gaúcho, portanto, começa a se movimentar, mas é de se lamentar que isso inclua a venda de Giuliano. Será que o Inter e o próprio jogador não poderiam esperar pela proposta de um clube mais representativo que o Dnipro? Ambos, Inter e Giuliano, parecem só ter pensado no dinheiro que irão receber, que aliviará os cofres do clube e engordará a conta bancária do jogador. Porém, o Inter perde um jogador jovem e de grande qualidade e Giuliano vai para um país de segunda linha no futebol, onde não terá a exposição merecida.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Vitória magra

Pouco antes do Grêmio tropeçar mais uma vez diante de um clube do interior, o Inter-B fez o dever de casa e venceu o Porto Alegre por 1x0, no Beira-Rio. O jogo foi de baixíssimo nível técnico, mas a vitória, no final das contas, é o que importa. O Inter, jogando apenas com reservas, já obteve uma vitória no Campeonato Gaúcho, coisa que o Grêmio ainda não alcançou, e já tem um ponto a mais na competição em relação ao seu maior rival, fatos que, certamente, tornarão mais tranquilos os próximos dias do clube.

Outra decepção

O Grêmio não passou de um empate em 1x1 com o Ypiranga, ontem à noite, em Erechim. O time reserva colocado em campo não serve como desculpa, pois nele estavam presentes jogadores já bastante utilizados, como Mário Fernandes, Vílson, Neuton, Diego Clementino e Júnior Viçosa. Até mesmo um titular, Adílson, foi escalado. O Grêmio tinha tudo para ganhar o jogo mas, mais uma vez, saiu na frente e cedeu o empate. Um lance foi emblemático da postura do Grêmio. Já no final do jogo, no que era para ser um contra-ataque fulminante, Diego Clementino, em vez de arremeter em direção ao gol, retardou o lance, passando a bola para Júnior Viçosa que, por sua vez, segurou-a ainda mais, permitindo que a defesa adversária voltasse para o seu lugar. O atacante gremista ainda tentou, pateticamente, segurar a bola no canto do gramado. Cerca de dois minutos depois dessa chance de liquidar o jogo ser desperdiçada, o Grêmio sofreu o gol de empate. Os  principais defeitos do Grêmio foram os mesmos do jogo anterior. Adílson continua errando passes de forma bisonha e Júnior Viçosa, apesar do gol marcado se mostra atabalhoado e sai muito da área. Até Diego Clementino, um dos xodós da torcida, foi muito mal, chegando a furar em bola de frente para o gol. Já são dois jogos do Grêmio no Campeonato Gaúcho e nenhuma vitória. Um desempenho frustrante e para o qual não há desculpas. O Grêmio do começo de 2011 está longe da mobilização que apresentava no final de 2010. Está na hora de acordar. Afinal, as férias já acabaram.

O cansaço de Renato

Desde sua chegada ao Grêmio, no segundo semestre de 2010, Renato viveu uma relação idílica com o clube e sua torcida. Aprovado de antemão pelo torcedor, tendo em vista ter sido o maior jogador da história do clube, Renato, como técnico, passou a empilhar bons resultados, tirando o Grêmio da zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro e classificando-o, com a ajuda prestimosa do Independiente, para a Pré-Libertadores. Porém, a diretoria do Grêmio mudou e, desde o início, transparecem sinais de que a harmonia de Renato como os novos dirigentes não é a mesma que havia com os antigos. A começar pelo fato de que ficou claro que Paulo Odone e seu grupo só renovaram o contrato de Renato por força das circunstâncias, pois o estilo de técnico apreciado pelo presidente do Grêmio é outro. Agora, Renato, alegando sobrecarga e cansaço, comunicou em entrevista que não irá viajar para os jogos no interior, nem para o Gre-Nal de Rivera. Confrontada com a notícia, a diretoria do Grêmio disse desconhecer tal decisão e desmentiu que ela seja levada a efeito. Lamentável e prejudicial desencontro de declarações entre Renato e os dirigentes, revelando uma dessintonia que só trará prejuízos ao clube. Pior do que isso, no entanto, é a alegação de Renato para não viajar, a de que está cansado e sobrecarregado. Renato voltou, há poucos dias, de um mês de férias, passadas no Rio de Janeiro, e ganha cerca de 400 mil reais por mês. Seria interessante saber o que pensa a respeito um trabalhador comum, que sacoleja diariamente em ônibus lotados e que nunca pôs os pês na Cidade Maravilhosa. Craque como jogador e técnico competente, Renato parece não ter a mesma habilidade com as palavras. Desde sua chegada, volta e meia dá uma declaração um tanto intempestiva, o que tem passado batido devido aos bons resultados de campo. Dessa vez, no entanto, suas palavras geraram um evidente desconforto na diretoria e, provavelmente, até entre os torcedores. Renato tem de entender que por tudo que já fez pelo Grêmio, ele pode muito, mas não pode tudo.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Indicações políticas

A indicação de ministros por critérios meramente políticos vem chamando a atenção da sociedade e da imprensa. As mais variadas conveniências de ordem partidária levam a que sejam nomeadas para tão altos cargos pessoas sem nenhuma vinculação com a área em que irão atuar. Entre outros exemplos, o novo ministro da Previdência Social, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB/RN), teria revelado nada entender do tema. Tudo isso é lamentável, mas, ao contrário do que possam pensar alguns, é prática disseminada no Brasil, seja em governos de inspiração esquerdista ou direitista, seja na democracia ou na ditadura. Prova disso ocorreu no final do governo de João Batista de Oliveira Figueiredo, na já então agonizante ditadura militar. O político mineiro Murilo Badaró foi, na ocasião, nomeado ministro da Indústria e Comércio. Em declaração para a imprensa logo depois de indicado para o cargo disse: "Nada entendo de indústria, nem de comércio". Como se vê, passados quase trinta anos, não há nada de novo nas práticas políticas.

Neymar

A turma do mau humor, os defensores do futebol pragmático, sem encanto, de muita transpiração e pouca inspiração, devem estar revoltados. Afinal, depois da atuação de Neymar na estréia da Seleção Brasileira Sub-20 no Campeonato Sul-Americano da categoria, ficou difícil sustentar suas teses. É claro que, mais uma vez, eles não se darão por vencidos. Alegarão que era um jogo em que Neymar enfrentou outros garotos da sua faixa etária, ignorando o quanto ele já fez, em 2010, no time profissional do Santos, quando foi o goleador do ano no Brasil, junto com Jonas do Grêmio, e que até já marcou gol pela Seleção Brasileira principal. O fato é que, na vitória da Seleção Brasileira Sub-20 sobre o Paraguai por 4x2, Neymar reafirmou a supremacia do talento sobre a força. Num jogo em que a equipe brasileira não teve uma boa atuação coletivamente, Neymar resolveu tudo, fazendo todos os quatro gols. Numa mostra da extensão de seu talento, Neymar fez gols de vários gêneros: cobrando penâlti, entrando a dribles na grande área, cabeceando após dividir com o goleiro e, finalmente, por cobertura. Como ainda é muto jovem, não tem nem 20 anos, Neymar tem uma longa e brilhante estrada pela frente. A Copa do Mundo de 2014 já tem o candidato a ser o seu maior craque.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Oportunidade perdida

Os dirigentes de futebol sempre dizem estar atentos a possibilidade de realizar um negócio de ocasião. Se é assim, os dirigentes da dupla Gre-Nal andam muito distraídos. Ambos os clubes procuram um primeiro volante, mas deixaram passar a oportunidade de contratar um jogador da posição que, por suas características, teria tudo para se dar bem no futebol do Rio Grande do Sul. Trata-se de Arévalo Rios, de muito bom desempenho na Copa do Mundo de 2010, jogando pelo Uruguai. Um jogador forte na marcação e de fala espanhola, talhado para disputas como a da Libertadores. Apesar disso, Grêmio e Inter não tentaram trazê-lo, ao que se saiba, e o jogador foi para o Botafogo. Uma oportunidade perdida que, mais tarde, poderá gerar arrependimentos.

O bem e o mal

Há uma frase, por muitos recitada, que diz que a maldade humana não tem limites. Os roubos de doações para as vítimas da região serrana do Estado do Rio de Janeiro, praticados por falsos voluntários, só confirmam a veracidade da afirmação. Enquanto uma corrente de solidariedade se espalha pelo país, visando minorar a dor dos atingidos pelo drama das enxurradas na serra fluminense, há quem tire proveito da situação tentando desviar as doações enviadas para as vítimas. Não há palavras que possam servir para classificar tal ato. Se a ação solidária de tantos indivíduos expõe o lado melhor que existe nos seres humanos, o roubo cometido pelos falsos voluntários demonstra a outra face, a fera que habita dentro das pessoas. Há também comerciantes que, insensíveis, cobram preços abusivos por itens como água e velas. Pelo menos há o consolo de que tais comerciantes não deverão ficar impunes. A ordem do comandante-geral da Polícia Militar do Estado Rio de Janeiro, coronel Mário Sérgio Duarte é que, constatados os abusos nos preços, tais pessoas sejam presas pelos PMs que trabalham no socorro às vítimas. Pelo menos isso. A ajuda ás vítimas da maior tragédia climática da história do Brasil, não pode ser maculada por atos tão sórdidos como os praticados pelos ladrões de doações e pelos comerciantes que querem lucrar com a dor alheia.

domingo, 16 de janeiro de 2011

A diferença

Se ambos tropeçaram na estréia no Campeonato Gaúcho, uma diferença se fez sentir nos jogos de Grêmio e Inter: o público. Enquanto o Grêmio levou mais de 15 mil pessoas ao Olímpico num sábado escaldante de verão, o jogo, do Inter, em Canoas, teve um público total de pouco mais de 800 assistentes. Nesse caso, nenhuma surpresa. O torcedor do Grêmio estava estimulado pelo excelente desempenho do time no final de 2010 e com saudade de revê-lo, após 40 dias sem jogos oficiais. Já o Inter, depois  do balde de água fria  com a derrota para o Mazembe, propõe-se a jogar o campeonato com um time reserva, o que resulta em mais um desestímulo para o torcedor.

Mais um começo pífio

Depois do Grêmio e seu inaceitável empate contra o Lajeadense, ontem, eis que o Inter também estréia no Campeonato Gaúcho e perde para o Cruzeiro por 1x0. Ah, mas era o time B do Inter, dirão alguns. Ainda assim, não serve como justificativa. O Cruzeiro não participava da primeira divisão há 32 anos. Seus recursos financeiros são escassos. Já o Inter B foi, em 2010, campeão da Copa Sub-23, em nível nacional, e da Copa Ênio Costamilan, no âmbito estadual. Mais que a derrota, preocupou a atuação sem nenhum brilho ou inspiração por parte do Inter. Se, como afirma a diretoria do clube, o Inter irá disputar todo o campeonato estadual com o time B, seus torcedores ainda terão muito sofrimento pela frente. A verdade é que, afora a competição ser muito pouco atrativa, o início da dupla Gre-Nal no Campeonato Gaúcho foi ainda mais desestimulante.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Frustrações

Decididamente, a virada no calendário não foi boa para o Grêmio. Os primeiros dias de 2011 estão em total contraste com os últimos de 2010. Depois de uma recuperação espetacular no Campeonato Brasileiro, saindo da zona de rebaixamento e obtendo classificação para a Pré-Libertadores, o Grêmio começa um novo ano fracassando na tentativa de trazer Ronaldinho, fazendo contratações que não empolgam seu torcedor e, como se não bastasse, na estréia no Campeonato Gaúcho, tropeça em casa contra um clube do interior. O resultado, empate em 2x2 com o Lajeadense, é indesculpável. Mesmo tendo voltado das férias há apenas dez dias, enquanto o adversário já se preparava desde novembro, o Grêmio não tem atenuantes que justifiquem tal resultado. O Grêmio chegou a estar vencendo por 2x0, o que torna o empate ainda mais vexatório. Dono de uma folha de pagamento muitíssimo maior que a do adversário, o Grêmio enfrentou um clube que chegou a fechar o departamento de futebol em 2007 e que há doze anos não participava da primeira divisão. Além disso, o Lajeadense precisou pedir emprestadas ao Grêmio as meias pretas que utilizou no jogo e não trouxe um médico para atuar na partida. O resultado serviu para reafirmar deficiências do Grêmio. Marcelo Grohe é um goleiro inconfiável e Adílson continua a errar passes e a atravessar bolas, proporcionando contragolpes do adversário. Afora isso, Gílson, em sua verdadeira posição, a lateral-esquerda, não jogou bem, Vílson, que deu boa resposta como zagueiro rebatedor e é razoável quando improvisado como um volante defensivo, não tem qualidade técnica para jogar na articulação. Júnior Viçosa, mais uma vez, mostrou ser esforçado, mas aquém das necessidaes do Grêmio. O resultado serve de alerta para aqueles que, ingenuamente, achavam que o time do Grêmio estava pronto e nem precisaria contratar. Um empate como o de hoje mostra que, para ficar em condições de conquistar uma Libertadores, por exemplo, O Grêmio tem um longo caminho a percorrer. Enquanto isso, o Santos, que reforçou um time que já era muito bom, estreou desfalcado e fora de casa no Campeonato Paulista e, mesmo assim, goleou o Linense por 4x1. Os resultados de campo, portanto, já estão começando a refletir a ação dos clubes fora dele.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O final de Passione

Foi ao ar, na noite de hoje, o último capítulo da novela Passione. Mais uma vez, como quase sempre acontece com as novelas do horário nobre da Rede Globo, Passione obteve boa audiência, carregando, ao longo dos meses, a expectativa do público para que fossem decifrados os mistérios de seu enredo. O autor da novela, Sílvio de Abreu, novamente lançou mão do recurso de assassinar personagens, mantendo o  suspense quanto a identidade dos criminosos. Pois hoje, finalmente, foi revelado que Clara (Mariana Ximenes) foi quem matou Eugênio Gouveia (Mauro Mendonça) e seu filho Saulo (Werner Schünemann).  Até aí, nada demais. O que é curioso é que, a exemplo do que aconteceu com a vilã da novela anterior de Sílvio de Abreu, Belíssima, Bia Falcão (Fernanda Montenegro), Clara ficou impune, recomeçando sua vida numa praia do Pacífico. Só para recordar, em Belíssima, Bia Falcão, depois de praticar diversas atrocidades, terminava a história em Paris, nos braços de um garotão com idade para ser seu neto. Clara, além de não sofrer qualquer punição, ainda fez com que Fred (Reynaldo Gianecchini), seu antigo comparsa de golpes, fosse condenado pela morte de Saulo. Está certo que a televisão é um meio de distração e as novelas são apenas entretenimento, não tendo obrigação de transmitir mensagens positivas, mas a insistência do autor em premiar suas vilãs com a impunidade faz com que, na ficção, também assistamos ao triunfo dos maus, tal e qual na vida real. Pelo menos no mundo do faz-de-conta, poderíamos ser brindados com que a ideia, de que, no final, a justiça seja feita.

Uma estranha opção

A se julgar pelo que vem sendo cogitado até aqui, o Grêmio parece ter adotado, em 2011, uma estranha preferência pela contratação de jogadores veteranos e caros. Depois de tentar a volta de Ronaldinho, que completará 31 anos em abril, o que implicaria no pagamento de um salário astronômico, o Grêmio estaria se voltando, agora, para a contratação de Gilberto Silva, que fará 35 anos em outubro. Gilberto Silva, a exemplo de Ronaldinho, há muito tempo já não mostra o melhor do seu futebol. Sua avançada idade não o recomenda para disputas de tamanha exigência como a Libertadores, por exemplo. Paralelamente a busca da contratação de jogadores já quase superados e caros, o clube despreza jovens valores vindos das suas categorias inferiores, desvalorizando seu  patrimônio. Os casos mais evidentes são os de Maylson e Mithyuê, de grande destaque no primeiro semestre de 2010, que foram relegados a um progressivo esquecimento. Para um clube que, há mais de uma década, luta contra uma enorme dívida, tais posturas, somadas, são um tiro no próprio pé.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A elitização do futebol

Para aqueles que gostam de futebol, a experiência de estar num estádio lotado, ocupado por uma torcida entusiasmada, é uma experiência das mais gratificantes. O espetáculo das arquibancadas soma-se ao futebol praticado no gramado, atingindo um nível, por vezes, fascinante. Porém, parece que muitos já não pensam assim. Em nome da segurança e do conforto, os estádios estão encolhendo. O Maracanã, antes o maior estádio do mundo, com capacidade aproximada para 200 mil pessoas, foi sendo, de tempos em tempos, encolhido, e, quando terminar a atual reforma, deverá abrigar menos de 80 mil lugares. Sua geral, exemplo da animação e da paixão do torcedor mais pobre, foi destruída para dar lugar a cadeiras. O mesmo aconteceu com a coréia do Beira-Rio, estádio que também foi sendo diminuído em sua capacidade  e que, já tendo abrigado mais de 100 mil pessoas, terá, quando do final da reforma que está sendo feita, 50 mil lugares. Espaços antes destinados ao público em geral, neste e em outros estádios, como o Olímpico, por exemplo, foram substituídos por camarotes e cadeiras, diminuindo a capacidade total e elevando o preço do ingresso para níveis fora do alcance do torcedor comum, que é justamente o mais fiel. Em sentido contrário a tudo isso, surgiu, há alguns anos, a torcida Geral do Grêmio, cujo colorido e animação, acompanhados por cânticos entoados incessantemente, chamou a atenção de todos, dentro e fora do Rio Grande do Sul. Logo surgiram, no entanto, os que viam em tal torcida um grupo perigoso, que não deveria ser estimulado e que poderia ameaçar a ordem dentro dos estádios, ignorando o quanto ela acrescentou de brilho e entusiasmo aos jogos do Grêmio, fato reconhecido por todos que aqui vem jogar ou transmitir jogos. Como se não bastasse, a Brigada Militar cogita, agora, de proibir as faixas coloridas que a Geral do Grêmio leva para os estádios, alegando que podem dificultar a visualização de pessoas que brigam ou consomem drogas. É o cúmulo da ranhetice e do mau humor. Enquanto os cariocas fazem uma enorme festa apenas para receber Ronaldinho, os gaúchos parecem querer banir a alegria e o colorido dos estádios. Já de algum tempo, a Brigada Militar parece querer assumir um papel de protagonista no futebol. Nada mais errado. A Brigada Militar é uma força auxiliar do espetáculo que nada deve propor, atuando apenas quando for solicitada por quem verdadeiramente deve comandar o futebol, as federações e os clubes. Se as coisas prosseguirem nesse caminho, o futebol deixará de ser o esporte das massas por excelência, para se transformar num espetáculo insípido e elitista.

Uma proposta contra a mesmice

Para os que se queixam da previsibilidade e da repetição de temas das novelas da televisão brasileira, o SBT acena com uma perspectiva interessante. A novela "Amor e Revolução", prevista para estrear em março, contou, em seu workshop de preparação, com um relato da jornalista Rose Nogueira, que referiu detalhes do período em que ficou presa, em 1969, nas dependências do DOPS. A jornalista, que foi presa apenas 30 dias depois de ter seu primeiro filho, descreveu as torturas a que foi submetida. O tema da tortura e  dos abusos do regime militar segue sendo um tabu para muitos no Brasil que, até hoje, não julgou os seus responsáveis, ao contrário do que fizeram seus vizinhos, Uruguai e Argentina. O fato de uma novela de televisão se propor a abordar o tema é, além de conveniente para a reflexão a respeito, um sopro de novidade na mesmice dos enredos.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Amarga rotina

A cada ano que passa ( e eles parecem passar cada vez mais rápido), lá vem a velha expressão: "Ano novo, vida nova". No entanto, depois dos tradicionais fogos e do champagne, das promessas de que vamos fazer isso ou aquilo e de que abandonaremos hábitos nocivos, eis que chega a realidade de volta. Numa repetição lúgubre e cansativa, neste, como em todos os verões, as enxurradas alagam cidades, destróem casas, arrastam carros, matam pessoas. Uma situação funesta, que se repete, ano após ano, principalmente na região Sudeste do país. O noticiário, assim sendo, acaba por refletir a mesma divisão que caracteriza a sociedade brasileira em todos os dias do ano, mas que, nessa época, torna-se mais gritante. E em nenhum outro lugar isso transparece tanto quanto no estado do Rio de Janeiro. Enquanto na sua capital, a mais bela cidade do mundo, seguem-se as festas e as badalações após o sempre extasiante revéillon de Copacabana, com direito a Ronaldinho no Flamengo e escândalos de Amy Winehouse, na região serrana ocorrem deslizamentos em função das chuvas e o número de mortos já chega a 48. Aqueles que já quase nada tem, perdem o pouco que lhes resta, algo que, como já foi dito, ocorre em todos os verões. Nada é feito para corrigir essa situação. São Paulo, também, vive, mais uma vez, o drama das enchentes e, em Porto Alegre, em 40 minutos do dia de ontem, choveu a metade do índice previsto para o mês inteiro, gerando uma série de transtornos. O ano só é novo para quem pode se dar ao luxo de se ocupar de trivialidades, enquanto doura seu corpo sob o sol do verão. Para os desvalidos do país, cada início de um novo ano traz, apenas, o retorno de uma amarga rotina, feita de tempestades, alagamentos, desabamentos, sofrimento e morte. Triste e revoltante realidade de um país tão desigual.

Letargia preocupante

Passado o fracasso do Inter diante do Mazembe e a tentativa frustrada do Grêmio de contratar Ronaldinho, a vida segue, porém, os dois maiores clubes do Rio Grande do Sul parecem tomados pela letargia. Nenhuma contratação de impacto foi anunciada, até agora, por nenhum dos dois. O Grêmio trouxe apenas um jogador de grupo, o atacante Lins, vindo do Criciúma. O Inter nem isso. Ora, ambos os clubes estarão envolvidos com a Libertadores, com o Grêmio tendo, primeiro, de passar pela fase preliminar da competição, com início já no dia 26. Enquanto isso, o Santos, que também estará na Libertadores, além de manter Paulo Henrique Ganso e Neymar, trouxe Elano de volta e contratou o lateral direito Jonathan, que estava no Cruzeiro, considerado por muitos o melhor jogador da posição no Brasil em 2010. Enganam-se os que pensam que o Grêmio, por ter feito a melhor campanha do segundo turno do Brasileirão de 2010, está com o time pronto. Faltam um lateral esquerdo, um volante e um reserva para a lateral direita, no mínimo. O Inter necessita de um goleiro, um lateral direito, um volante e um centroavante. Entende-se que os clubes tenham carência de recursos e dificuldades para fazer contratações, mas é preciso alterar esse quadro, ou 2011 trará mais decepções que comemorações para os torcedores da dupla Gre-Nal.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Lennon remasterizado

Foi lançada, no final do ano passado, a reedição de todos os discos da carreira solo de John Lennon, em cds remasterizados. A iniciativa teve um óbvio cunho mercadológico, para aproveitar as datas redondas completadas em 2010, ou seja, os 70 anos de seu nascimento, em 9 de outubro, e os 30 anos de sua morte, em 8 de dezembro, mas isso não vem ao caso. O melhor de tudo é que para ter acesso aos cds não é preciso adquirir o estojo que, além deles, traz um kit com diversos outros itens e cujo preço varia entre 750 e 1000 reais, fora, portanto do alcance do bolso da maioria das pessoas. É possível adquirir cada cd separadamente, a preço de mercado, isto é, cerca de 25 reais. Uma oportunidade imperdível para conferir a obra solo do mais controvertido dos Beatles.

Os estaduais estão de volta

No próximo fim de semana começarão a maioria dos campeonatos estaduais de futebol de 2011. Passado o período de férias dos jogadores, o futebol retoma a sua rotina. É verdade que, graças aos direitos de transmissão pagos pela televisão, os campeonatos estaduais já não são caravanas da miséria, como no passado. Tecnicamente, porém, nada acrescentam. Os estaduais são uma herança de uma época em que as dimensões continentais do país não permitiam grandes deslocamentos para os clubes, devido a falta de estrutura e logística. Disso resultou que, só em 1971, quando o Brasil já havia conquistado três Copas do Mundo, é que foi organizado o primeiro Campeonato Brasileiro de Futebol. Hoje, com o Campeonato Brasileiro plenamente consolidado e com outras competições atrativas para o torcedor como Copa do Brasil e Libertadores, os campeonatos estaduais perderam o sentido, ao menos em termos de grandes clubes. Não há porque ocupar quase um semestre com uma competição de tão pouco interesse, sabendo-se que, paralelamente, os grandes clubes tem de se ocupar de disputas mais importantes. A redução do tempo de disputa dos estaduais beneficiaria muito o planejamento dos maiores clubes brasileiros. Foi-se o tempo em que ser campeão da sua aldeia motivava os torcedores. Hoje, eles almejam glórias cada vez maiores, títulos nacionais, continentais e mundiais. Os campeonatos estaduais, são cada vez mais, um anacronismo, como as galochas ou a fita cassete.

Um início promissor

Os primeiros dias do governo da presidente Dilma Roussef, já apresentam uma característica que deve ser destacada. Dilma, coerente com seu perfil técnico, tem se mantido concentrada nas ações de governo, permanecendo recolhida em seu gabinete. Algo muito diferente de seu antecessor, o presidente Lula, sempre disposto ao contato com o povo nas ruas e com a imprensa e, mais ainda, da pirotecnia dos primeiros momentos do governo de Fernando Collor de Melo, recheados de ações espetaculosas. Discrição e contenção que não surpreendem quem já conhecia a forma de trabalhar de Dilma Roussef, e que, certamente, redundarão em benefício da eficiência da administração.

Um triste espetáculo

O episódio envolvendo Ronaldinho, Grêmio, Flamengo e Palmeiras, que frequentou o noticiário esportivo por um quase um mês, constituiu-se num triste espetáculo. O que era para ser o saudado retorno de um craque ao seu país de origem, transformou-se num leilão dos mais vulgares. O irmão e procurador de Ronaldinho, Roberto de Assis Moreira, o Assis, garantiu para os três clubes que o negócio estava fechado. Como se sabe agora, Ronaldinho foi para o Flamengo e Grêmio e Palmeiras, ludibriados que foram, tratam de lamber suas feridas. Um triste retrato do futebol atual, onde o dinheiro a tudo se sobrepõe. Não é só a magia da técnica dos grandes craques que se perdeu com o tempo. Também o nível de conduta das pessoas envolvidas com o futebol piorou. Além de praticarem um futebol inigualável nos tempos atuais, jogadores como Pelé, Tostão, Gérson, Rivellino, entre outros nomes do passado, jamais agiriam da forma como o fizeram Ronaldinho e seu irmão. Não é só dentro do campo que o futebol de outros tempos deixou saudade. No comportamento ético, também.

Os 70 anos de Gérson

Os 70 anos de idade de Gérson, o Canhotinha de Ouro, completados hoje, merecem ser devidamente comemorados. Depois de Pelé, em outubro, é mais um ícone da inesquecível Seleção Brasileira de 1970 a atingir tal idade. É verdade que Félix, o goleiro daquela seleção foi o primeiro a atingir tal marca, mas ao contrário de Pelé e Gérson, sempre foi um jogador contestado. É uma pena que a maioria das pessoas que hoje acompanham o futebol não tenham visto Gérson jogar. Eu mesmo, ainda criança, só testemunhei o final de sua carreira. Foi o bastante, no entanto, para me encantar com a maestria e a inteligência do seu futebol. Um futebol com tal nível de técnica e refinamento que causa constrangimento qualquer tentativa de comparação com o que se pratica hoje, nos campos pelo mundo afora. Há quem diga que jogadores como Gérson não teriam lugar no futebol de hoje, caracterizado pela forte marcação e ocupação de espaços. Já se disse o mesmo até em relação a Garrincha! Um total despropósito! Jogadores como Gérson e Garrincha sempre teriam vez em qualquer época do futebol. Muitos dos que hoje ganham fortunas é que não ficariam nem no banco nos anos dourados do futebol brasileiro e mundial. Gérson foi um dos exemplos mais bem acabados do jogador de armação do meio de campo. Um autêntico pensador de jogadas, que ditava o ritmo do time. Seu lançamento, desde a metade do campo, para Pelé, dentro da grande área, matar no peito e marcar um de seus gols na Copa de 70, é uma da jogadas mais lindas da história do futebol. Os privilegiados que viram Gérson jogar, morrem de saudade. Os demais, não sabem o que perderam. Parabéns Canhotinha!!!