quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Amarga rotina

A cada ano que passa ( e eles parecem passar cada vez mais rápido), lá vem a velha expressão: "Ano novo, vida nova". No entanto, depois dos tradicionais fogos e do champagne, das promessas de que vamos fazer isso ou aquilo e de que abandonaremos hábitos nocivos, eis que chega a realidade de volta. Numa repetição lúgubre e cansativa, neste, como em todos os verões, as enxurradas alagam cidades, destróem casas, arrastam carros, matam pessoas. Uma situação funesta, que se repete, ano após ano, principalmente na região Sudeste do país. O noticiário, assim sendo, acaba por refletir a mesma divisão que caracteriza a sociedade brasileira em todos os dias do ano, mas que, nessa época, torna-se mais gritante. E em nenhum outro lugar isso transparece tanto quanto no estado do Rio de Janeiro. Enquanto na sua capital, a mais bela cidade do mundo, seguem-se as festas e as badalações após o sempre extasiante revéillon de Copacabana, com direito a Ronaldinho no Flamengo e escândalos de Amy Winehouse, na região serrana ocorrem deslizamentos em função das chuvas e o número de mortos já chega a 48. Aqueles que já quase nada tem, perdem o pouco que lhes resta, algo que, como já foi dito, ocorre em todos os verões. Nada é feito para corrigir essa situação. São Paulo, também, vive, mais uma vez, o drama das enchentes e, em Porto Alegre, em 40 minutos do dia de ontem, choveu a metade do índice previsto para o mês inteiro, gerando uma série de transtornos. O ano só é novo para quem pode se dar ao luxo de se ocupar de trivialidades, enquanto doura seu corpo sob o sol do verão. Para os desvalidos do país, cada início de um novo ano traz, apenas, o retorno de uma amarga rotina, feita de tempestades, alagamentos, desabamentos, sofrimento e morte. Triste e revoltante realidade de um país tão desigual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O autor se reserva o direito de moderar os comentários. Textos com conteúdo ofensivo ou linguajar inapropriado não serão publicados neste espaço.