quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A renúncia que sacudiu o Brasil

Hoje completam-se os 50 anos da renúncia do presidente Jânio Quadros, ato que gerou enorme instabilidade institucional no Brasil e que iria influenciar nos rumos políticos do país por mais de duas décadas. Jânio, um político histriônico e excêntrico, nunca chegou a revelar publicamente as razões do seu gesto, mas dá-se como certo de que ele pretendia que o povo e os militares pedissem a sua permanência, concedendo-lhe poderes especiais, já que sabia que as Forças Armadas não concordariam com a posse do vice-presidente, João Goulart, a quem consideravam comunista. Se foi assim, o tiro saiu pela culatra. A renúncia de Jânio foi aceita e o país se viu mergulhado em uma grande crise, já que os militares queriam impedir a posse de Goulart. A perspectiva de um golpe militar fez com que o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, requisitasse a Rádio Guaíba, de Porto Alegre, para, a partir dos porões do Palácio Piratini, comandar a Rede da Legalidade, visando garantir a posse de Goulart. O vice-presidente, que se encontrava em missão oficial na China, conseguiu retornar ao Brasil e, depois de vários dias em que o país esteve convulsionado pela tentativa de atentar contra a ordem constitucional, aceitou a solução conciliatória de adoção do parlamentarismo, regime que retira poderes do presidente. Uma consulta popular, em janeiro de 1963, decidiu pelo retorno do presidencialismo, e João Goulart teve de volta a plenitude de seus poderes. No entanto, as forças de direita e as elites atreladas aos interesses americanos permaneceram contrárias ao seu governo, culminando por derrubá-lo com o abjeto golpe militar de 1964, que jogou o país nas trevas do autoritarismo. O bravo movimento da Legalidade conseguiu adiar, mas não impedir, a manobra sórdida contra a democracia praticada pelos mesmos que combateram Vargas e tentaram impedir a posse de Juscelino Kubistchek. As forças liberticidas impuseram ao país 21 anos de supressão dos preceitos democráticos, torturas e mortes nos porões da ditadura. Tudo começou com uma renúncia que sacudiu o Brasil.