terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Brasil dividido

A questão envolvendo os chamados "rolezinhos", reunião de jovens da periferia em shoppings centers, expõe, mais uma vez, a dramática divisão de classes existente no Brasil. Ela confirma a existência de uma Belíndia no país, termo cunhado pelo economista Edmar Bacha, citado vez por outra nesse espaço. Uma pequena e privilegiada porção da sociedade com um padrão de vida belga, de um lado, e enormes bolsões de pobreza ao estilo indiano, de outro. O lado belga tenta, o tempo inteiro, fugir do convívio com a parte indiana. Fecha-se em condomínios gradeados e de muros altos, procura frequentar espaços exclusivos, sem contato com a "ralé". Os shopping centers, templos de consumo são, no entender dos mais aquinhoados, um espaço que lhes pertence, e que não pode ser "invadido" por hordas de pobretões que vão descaracterizar o seu glamour e colocar em risco a sua segurança. Os brasileiros da porção privilegiada querem exclusividade para desfrutar o ar condicionado de tais ambientes, suas tentadoras praças de alimentação, as lojas de grife, suas opções de lazer. O repúdio aos rolezinhos é apenas mais uma demonstração da insensibilidade e do preconceito das classes mais favorecidas em relação aos desafortunados da sociedade. Há juízes acolhendo ações de shopping centers proibindo tais manifestações. Outros não as estão deferindo, por não verem razão para tanto. O mito do país acolhedor, de um povo cordial, novamente cai por terra. O Brasil é um país extremamente desigual e sectário, onde endinheirados reagem sempre que os mais pobres demonstram não reconhecer qual é o "seu lugar". O Brasil é um país que colheu, nos últimos anos, notáveis avanços em várias áreas, mas continua medieval no aspecto social.