quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Falência ética

A vitória da Beija-Flor nos desfiles de Carnaval na Marquês de Sapucaí escancara a falência ética que se abate sobre o Brasil. Como referi anteriormente nesse espaço, a escola recebeu uma doação de R$10 milhões do regime ditatorial da Guiné Equatorial, há 35 anos no poder. A Beija-Flor nega ter recebido a doação, e diz que seu desfile foi financiado por empreiteiras brasileiras que tem negócios naquele país africano. Uma das construtoras apontadas como financiadoras do desfile, a Odebrecht, desmentiu que tenha injetado recursos na Beija-Flor. Para piorar essa história malcheirosa, o puxador de samba da escola, Neguinho da Beija-Flor, em entrevista à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, embora tenha dito que não houve a doação da Guiné Equatorial, argumentou que o Carnaval do Rio de Janeiro era uma bagunça em outros tempos, e que foi a contravenção que transformou-o num espetáculo magnífico, de repercussão internacional. O brasileiro é leniente com transgressões éticas, desde que seus objetivos sejam alcançados, ou seja, é a velha história de que os fins justificam os meios, ou do político que rouba mas faz. Em sua entrevista, Neguinho da Beija-Flor desdenhou dos reparos à vitória de sua escola de samba. Destacou o fato de que o enredo exaltava a cultura africana. Citou o fato de os negros terem sido escravizados e queixou-se de que quando se homenageia a cultura desse povo isso é alvo de críticas. O puxador da Beija-Flor meteu os pés pelas mãos em suas declarações, e foi um retrato fiel da falta de senso ético que caracteriza o Brasil.