segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Pedro Rocha

Um dia antes de completar 71 anos, faleceu, hoje, o ex-jogador uruguaio Pedro Rocha. Ele foi vítima de uma doença degenerativa, a atrofia do mesencéfalo, contra a qual lutava há vários anos, que lhe comprometera a fala e os movimentos. Pedro Rocha foi o único jogador uruguaio a disputar quatro Copas do Mundo. Pelé o considera um dos cinco maiores jogadores de todos os tempos. No Peñarol, ganhou oito campeonatos uruguaios, três Libertadores da América, e dois Campeonatos Mundiais de Clubes. Pelo São Paulo, jogou de 1971 a 1977, fez 324 partidas e marcou 119 gols, conquistou dois campeonatos paulistas e um brasileiro. No Brasil, jogou, ainda, por Coritiba, Palmeiras e Bangu, e encerrou sua carreira no Al Nassr, da Arábia Saudita, em 1980. Também foi técnico, sem  muito êxito, e, entre outros, clubes, treinou o Inter, onde teve uma passagem rápida e apagada. Porém, como jogador, sua qualidade era indiscutível. Um craque de uma época de ouro do futebol. Apenas quatro dias depois de Nílton Santos, outro craque que esteve em quatro Copas do Mundo, é mais um artista da bola que nos deixa.

Entusiasmo arrefecido

Desde que o argentino Jorge Bergoglio foi escolhido como o novo papa, que adotou por nome Francisco, a revista "Veja" brindou-lhe com toda a sorte de elogios e referências positivas. Francisco foi apontado pela revista como o homem que viera para salvar a Igreja, dar-lhe uma nova face, limpá-la da presença de pedófilos e homossexuais entre seus membros, conter a perda de fiéis para outras religiões, entre muitas outras tarefas. Sua bondade, carisma, simpatia e acessibilidade eram saudadas pela publicação. Porém, ao divulgar o primeiro documento de relevo de seu papado, a exortação apostólica "Evangelii Gaudium" (A alegria do Evangelho), Francisco sofreu as primeiras críticas da revista que tanto o exaltava, indicando que o entusiasmo da publicação pela sua figura pode estar arrefecendo. Tudo porque, numa análise percuciente e praticamente irrebatível, Francisco condenou o livre mercado e criticou o capitalismo. Num trecho particularmente inspirado, Francisco escreveu o seguinte: "Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controle dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum". Essas verdades, incontestáveis à luz da razão, não foram, é claro, assimiladas por "Veja". A revista argumentou que o "legítimo" direito de acumular riqueza nasceu das próprias costelas trincadas da Igreja pela Reforma Protestante, no século XVI, que segundo o filósofo alemão Max Weber, tirou dos cristãos os dilemas éticos e morais que os impediam de obter lucro. "Veja" considerou, também, que se o papa olhasse com atenção o governo "antidemocrático" da Argentina da presidente Cristina Kirchner, perceberia que a solução é menos, e não mais, Estado. Por fim, a publicação afirma que ao transformar uma solução, o livre mercado, em problema, Francisco pode estar se encaminhando para pregar no deserto. Nada mais falso. Francisco acertou na "mosca". Suas palavras vão ao encontro do que sentem na carne os desvalidos e do que tem consciência as mentes mais lúcidas e esclarecidas. Ter sofrido críticas de uma publicação tão repugnantemente conservadora e neoliberal como "Veja" é um sinal inequívoco do acerto do que escreveu.