terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Os descaminhos do ensino brasileiro

O ensino, no Brasil, vive o agravamento de uma crise iniciada há muitos anos. A rigor, desde a malfadada reforma realizada em 1971, em pleno regime militar, pelo então ministro da Educação, Jarbas Passarinho, o nível do ensino no país só faz decair. Agora, o sindicato dos professores do Rio Grande do Sul, Cpers, na palavra de sua presidente, Rejane de Oliveira, alerta para mais uma medida que poderá ser danosa aos interesses dos estudantes. Trata-se da reforma do Ensino Médio no Rio Grande do Sul, que dará ênfase, nas escolas públicas, ao ensino profissionalizante. Rejane considera que a medida ampliará a desigualdade no Estado, pois entende que os estudantes das escolas públicas serão preparados para se tornarem mão de obra barata das empresas, enquanto as instituições privadas têm o o foco na parte intelectual do seu aluno. A presidente do Cpers diz que a proposta não vai preparar o aluno da rede pública para o mercado de trabalho e tampouco para disputar um lugar na universidade, pois o ensino profissionalizante será insuficiente e haverá, também, menos tempo dedicado às matérias essenciais. Parece incrível, mas enquanto outros países possuem uma metodologia de ensino alicerçada ao longo do tempo, fazendo, é claro, as necessárias adaptações às novas realidades, o Brasil parece estar num permanente experimentalismo. Isso, é claro, é extremamente danoso para o país. A qualidade da educação brasileira é baixa, e a cada nova avaliação internacional, revela-se pior. A escola pública já foi um primor no país. Hoje, é sinônimo de ensino de má qualidade. Há quem coloque a culpa da deterioração do ensino brasileiro na universalização do acesso à escola. Ora, este é um argumento absurdamente elitista! O ensino fundamental é um direito de todo e qualquer cidadão. Se, após esse estágio inicial, verifica-se enorme evasão no ensino médio e um número ínfimo de alunos ingressa na universidade, a culpa é de uma política educacional que está na contramão dos interesses dos estudantes e do país. Ideias como a que se pretende implantar no Estado em nada colaborarão para uma mudança nesse quadro desolador. No plano nacional, a substituição dos vestibulares pelo Enem está longe de ser uma solução. Trata-se de uma visão "meritocrática" de inspiração americana que também faz com que aumente o fosso entre os alunos mais bem preparados e os de formação mais precária. O sistema de ensino não pode nem deve ser uma forma de perpetuação das desigualdades sociais. A lógica neoliberal para o setor é a da tal "meritocracia", que favorece os mais bem aquinhoados, rejeita as cotas sociais, sucateia o ensino público e retira dos menos favorecidos a possibilidade de ascensão social. Ensino público gratuito e de qualidade, em todos os níveis, fundamental, médio e superior, é um direito da sociedade e um dever dos governos. Forma, junto com o acesso aos serviços de saúde e a garantia de segurança, as três tarefas essenciais e intransferíveis do poder público.