quinta-feira, 18 de julho de 2013

A fala de Blatter

Antes de mais nada, preciso deixar claro que sempre fui a favor da realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, e não revi meu pensamento. Porém, as declarações do presidente da Fifa, Joseph Blatter, dizendo-se incomodado com os protestos ocorridos no Brasil durante a realização da Copa das Confederações, não podem ser aceitas passivamente. Blatter declarou que se os protestos acontecerem de novo será o caso da Fifa questionar se tomou a decisão errada ao indicar o Brasil como sede da Copa de 2014. O presidente da Fifa tem mantido contatos constantes com o governo brasileiro manifestando sua preocupação com o assunto. O dirigente argumentou que a Fifa não pode ser responsabilizada pelas discrepâncias sociais que existem no Brasil e que não é ela que tem que aprender com os protestos, mas, sim, os políticos brasileiros. Joseph Blatter afirmou que o governo brasileiro terá de trabalhar para evitar os protestos durante a Copa, pois já comunicou à presidente Dilma Rousseff que não irá tolerá-los. Convenhamos, é muita arrogância de Blatter. Sua biografia está longe de ser brilhante. Alcançou o cargo que ocupa depois de ser, durante anos, o secretário-geral da Fifa, quando esta era presidida pelo brasileiro João Havelange, que, sabe-se hoje, teve uma longa gestão marcada pela corrupção. Blatter, no entanto, porta-se como se fosse dotado de um poder incontrastável, acima dos governos. Como pode se achar no direito de dizer à presidente de um país soberano que não admite isso ou aquilo? Os países, quando se candidatam a sediar uma Copa do Mundo, submetem-se, voluntariamente, ao rigoroso caderno de encargos da Fifa. Isso, contudo, não significa que, durante a Copa, o país abra mão de sua soberania em favor da Fifa, nem que a mesma possa se imiscuir em assuntos da sua ordem interna. A manifestação de Blatter foi totalmente imprópria, e está a merecer uma enérgica reprovação por parte do governo brasileiro.