domingo, 14 de dezembro de 2014

Estranho fenômeno

A música, em décadas passadas, já teve um espaço nobre na televisão brasileira. Vários programas e os célebres festivais, faziam da música uma grande atração televisiva. Com o tempo, a música foi encolhendo a sua participação na televisão e sendo relegada a horários pouco atrativos. Porém, agora, um outro fato negativo aparece nessa relação. Os poucos espaços televisivos para a música ainda existentes estão sendo ocupados, de maneira majoritária, pelos artistas ditos "sertanejos". Esse gênero musical, em tempos idos uma manifestação autêntica de origem "caipira", hoje deu lugar ao chamado "sertanejo universitário". Duplas dedicadas a essa "vertente musical" brotam aos magotes, como ervas daninhas. Em comum, apresentam melodias pobres e letras rasas, cheias de pieguices e lugares comuns. Não há como entender esse estranho fenômeno de popularidade de "artistas" tão desprovidos de talento. O Brasil tem, na música, uma das suas grandes riquezas culturais, reconhecida no mundo inteiro. Tom Jobim, por exemplo, cuja morte completou 20 anos há poucos dias, compôs, junto com Vinícius de Moraes, "Garota de Ipanema", a segunda música com maior número de execuções em todos os tempos. Um país que possui nomes como Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, entre outros, não pode ter, como gênero dominante de uma época, algo tão simplório como a música sertaneja, seja no estilo "universitário" ou não. Até porquê, somos um país onde a maioria esmagadora da população vive nas cidades, sem contar que temos um vasto e lindo litoral. Seria mais lógico vivermos a explosão de uma música praieira do que reverenciar composições que fazem alusões à peões, rodeios, estradas de chão e romances tendo o campo por cenário, o que pouco tem a ver com a realidade brasileira.