segunda-feira, 11 de novembro de 2019

A América do Sul em ebulição

A renúncia do presidente da Bolívia, Evo Morales, é mais um acontecimento impactante num ano efervescente na política sul-americana. Antes dele, houve protestos de rua no Equador, a volta da esquerda ao poder na Argentina, e as violentas manifestações populares no Chile, a mostrar a América do Sul em ebulição. Cada um desses fatos tem sua especificidade local, mas, como pano de fundo de todos eles, há o eterno confronto entre esquerda e direita que alguns arautos da "modernidade" afirmavam estar superado. O neoliberalismo, que chegara com pose triunfante na Argentina, com a eleição de Maurício Macri há quatro anos, já foi expurgado pelas urnas. Macri buscava a reeleição, mas a desastrosa política econômica de seu governo redundou no retorno da esquerda ao poder com uma acachapante vitória de Alberto Fernandez no primeiro turno. O Chile, que era apresentado pela direita como um exemplo bem sucedido da cartilha econômica neoliberal, entrou em estado de convulsão social. No Brasil, onde o governo de direita está implementando medidas econômicas desastrosas para os interesses da população, a libertação do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva joga mais lenha na fogueira do caldeirão político que fervilha no país há seis anos. No caso específico da Bolívia, o continuísmo de Evo Morales foi fortalecendo à oposição ao seu governo. A alternância no poder é importante para a oxigenação da democracia de um país. Ainda que determinada pelo voto, a manutenção de um governante no cargo por sucessivos mandatos não é saudável. Forçado pelos setores golpistas de sempre, sob a influência do imperialismo americano, o presidente boliviano renunciou. A Bolívia, até o momento, se encontra acéfala em sua estrutura de poder. Ninguém sabe quem irá assumir o governo. No Chile, a crise continua, com a presença maciça do povo nas ruas, sem que se saiba quando ela irá arrefecer. Muito ainda irá acontecer na América do Sul nos próximos anos. O acirramento do conflito entre esquerda e direita é evidente, e seus desdobramentos ainda não são mensuráveis. Porém, cedo ou tarde, a direita será derrotada em toda a América do Sul, pois suas ações só geram miséria e aprofundamento das desigualdades sociais.