quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Estupidez importada

Os grandes edifícios, os chamados "arranha-céus", jamais me fascinaram. Considero-os a face perversa mais evidente da deterioração da qualidade de vida das grandes cidades e metrópoles. Não vejo como se possa achar bela a vista aérea de uma cidade tomada por esses gigantes de concreto onde seres humanos são engaiolados. Por mais que os arquitetos se esforcem, e que recursos os mais variados sejam colocados nesses prédios, esteticamente a visão dessa "selva de pedra" é extremamente desagradável. Infelizmente, nem todos pensam assim.. Erigir prédios enormes é visto por muitos como símbolo da pujança de uma cidade, sinônimo de desenvolvimento e progresso. Em alguns lugares do mundo, isso levou a uma absurda competição para saber quem constrói o edifício mais alto, ou a maior "torre", como se convencionou chamar tais construções ultimamente. Países como a China e os Emirados Árabes Unidos, onde o dinheiro corre farto, constroem novos megaprédios a cada dia. A ânsia de mostrar construções opulentas, que sirvam como propaganda da riqueza alcançada por tais países, não leva em conta o fator principal, ou seja, o bem estar de quem ocupa tais prédios, para trabalhar ou morar. Será realmente estimulante e agradável trabalhar num escritório situado no 60° andar de um prédio, ou residir no 40° piso de um edifício? Os construtores não parecem estar preocupados com tais perguntas. A publicidade dos prédios residencias, nos últimos tempos, destaca a existência de apartamentos em "andares altos", como se isso fosse um dado positivo a ser levado em conta pelo potencial comprador. Pois bem, essa tendência estúpida começou lá fora, mas logo chegou aqui, como se vê por esse exemplo. Esse quadro só deve piorar. Ao abrir um jornal, na manhã de hoje, me deparei com o anúncio de um prédio comercial a ser erguido em Gravataí, que terá 42 andares. O texto do anúncio diz tratar-se do "mais alto arranha-céu do RS". Até um site próprio para o edifício já existe na internet, o "www.oprediomaisaltodors.com.br". Como não poderia deixar de ser, a construção em questão é dotada de toda a sorte de modernidades e, até, com um heliporto. O fato do prédio ser erguido em Gravataí, não chega a constituir nenhuma surpresa. Antes, praticamente, uma das tantas cidades-dormitório que gravitavam em torno de Porto Alegre, Gravataí recebeu um notável impulso econômico a partir da instalação no município de uma fábrica da General Motors. O que se quer levar á reflexão, nesse espaço, é porque o desenvolvimento econômico de uma cidade, região ou país tem de estar atrelado à construção de prédios gigantescos, que enfeiam a paisagem, encobrem a luz do sol, e interferem no regime dos ventos? O ser humano, assim como os pássaros, não foi feito para ser preso em gaiolas. A busca da otimização do espaço físico fez com que as cidades ficassem tomadas pelos edifícios, que agrupam um número muito maior de pessoas num espaço físico menor, se comparados com as casas. Porém, é inegável que a principal vítima dessa mudança foi a qualidade de vida das pessoas, que se viram confinadas a espaços cada vez mais diminutos. A excêntrica e desarrazoada busca pela construção de gigantescas torres comerciais e residenciais, antes uma curiosidade verificada em países distantes, pelo visto, chegou ao Brasil. Como se não bastassem tantas mazelas no país, estamos importando, também, as ações estúpidas de outros povos.