segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A inconformidade dos derrotados

A vitória apertada de Dilma Rousseff sobre Aécio Neves, com uma diferença de pouco mais de 3 milhões de votos, fez com que a inconformidade dos derrotados se mostrasse como nunca após a eleição para presidente. Em algumas capitais brasileiras, manifestantes foram às ruas para pedir o impeachment da presidente Dilma e a intervenção dos militares. Em comum, todas essas manifestações tiveram um número pouco expressivo de participantes. Paralelamente a isso, a revista "Veja", sempre ela, enumera "ameaças" que a continuidade do poder nas mãos do PT pode trazer ao país. O entrevistado das páginas amarelas da revista, na edição dessa semana, o jornalista venezuelano Miguel Henrique Otero, diz ver semelhanças do quadro político brasileiro com o do seu país, e, entre outros temores, diz que Dilma poderá, ao fim de seu novo mandato, alterar a Constituição para se candidatar novamente. Trata-se de um terrorismo político já praticado por "Veja" em relação ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.  A publicação dava como certo que Lula mudaria a Constituição para poder obter um terceiro mandato. Ressalte-se que, se quisesse, Lula conseguiria essa mudança com facilidade. Ainda assim, ele respeitou a Constituição e fez de Dilma Rousseff a sua candidata, que acabou eleita e, agora, foi reconduzida para mais um mandato. As manifestações de rua e as ameaças acenadas pela revista "Veja" apenas demonstram que há um grupo de brasileiros, pequeno mas muito radical, que não assimila bem as derrotas eleitorais. A presidente Dilma Rousseff não será deposta, e o cenário de horrores previsto por "Veja" não se confirmará. O  Brasil tem uma democracia sólida. Aliás, em 2015, o país completará 30 anos de restituição da democracia, o que tem de ser muito festejado por todos os brasileiros. Os perdedores de uma eleição devem aceitar o resultado das urnas e se prepararem para a próxima. Essa é a única maneira legítima de alcançar o poder. Pedir a destituição de uma presidente eleita pelo voto e sua substituição por militares é uma demonstração de intolerância política incompatível com a realidade do país, e só expõe seus proponentes ao ridículo.