segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Falsa nobreza

Os leitores desse espaço já devem ter percebido, é claro, que tenho me eximido de tecer considerações sobre o julgamento do "mensalão". Entre outras razões, procedo assim por entender ser mais adequado dar minha visão a respeito quando tudo estiver definido do que comentar o acontecimento durante suas fases. Hoje, porém, abro uma exceção, até para não me omitir de ponderar sobre um assunto que tem impactado o país nos últimos meses. O "mensalão" aconteceu, claro que sim. Não se trata de uma conspiração das forças conservadoras e da oposição, como dizem alguns defensores mais apaixonados do governo federal. Também é óbvio que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva sabia de tudo, não foi pego de surpresa. Sendo assim, que o Supremo Tribunal Federal cumpra o seu papel, e dê aos reús a penalização que entender adequada. Não é disso que quero me ocupar. O que me incomoda nesse episódio é a cruzada pseudomoralista comandada pela revista "Veja", cuja linha editorial é sobejamente conhecida por seu viés ideológico de extrema direita. Sua campanha aberta contra os réus do mensalão nada tem de caráter patriótico. Fosse assim, e a revista deveria ter a mesma postura indignada em relação à compra de votos de congressistas para a aprovação da emenda da reeleição para cargos executivos, liderada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em benefício próprio. "Veja", contudo, silencia sobre esse acontecimento, pois simpatiza com FHC. O ex-presidente Lula, ao contrário, é alvo do ódio permanente da publicação. Esse ódio, todavia, não impediu Lula de ganhar duas eleições para presidente, nem de eleger sua substituta no cargo. A revista busca, de todas as formas, desacreditar Lula e o PT, na tentativa de encurtar a permanência do partido no poder. "Veja" entende, inclusive, que os baixos índices de intenção de votos de candidatos do PT para prefeitos nas grandes cidades já é um reflexo do mensalão. Ingênua pretensão. Os candidatos não estão bem nas pesquisas porque são fracos, apenas isso. No plano federal, que é o que, verdadeiramente, interessa à revista, o PT deverá continuar no poder por muitos anos, independentemente do resultado do julgamento do "mensalão". Por trás da aparente nobreza de intenções da postura inflamada contra o que "Veja" qualifica como "o maior escândalo da história do país", o que há é mero oportunismo político. Trata-se de um tentativa de derrubar o governo operada insistentemente desde que o PT chegou ao poder, e que tem fracassado sempre. Dessa vez, não será diferente.