segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Estupidez travestida de racionalidade

O jornalista Leandro Narloch, não por acaso integrante da equipe da nefanda revista "Veja", descobriu, há alguns anos, um filão editorial, lançando os seus "guias politicamente incorretos" sobre vários temas, sempre, é claro, sob a ótica neoliberal da publicação que o emprega. Nos tais "guias", Narloch se propõe a desmanchar "falsas verdades" da visão de esquerda ou mesmo do senso comum. Sua mais nova aventura no gênero é o livro "Guia Politicamente Incorreto da Economia Brasileira", que, como não poderia deixar de ser, recebeu uma extensa e elogiosa resenha nas páginas de "Veja". Como é característico em se tratando da revista, na ânsia de convencer o leitor a abraçar o seu ponto de vista, a adjetivação é farta e contundente. O livro de Narloch é qualificado como sendo uma "demolição elegante", de um autor que "sente um evidente prazer em desmontar certezas queridas do senso comum". O texto de apreciação da obra segue nesse tom laudatório, informando que em dezessete breves capítulos, Narloch busca ativamente a polêmica, atacando "vacas sagradas do status quo brasileiro". Ficamos sabendo, então, que entre as "pérolas" do pensamento de Narloch, "sempre com base no exercício da razão" destaca a matéria, estão ideias como a de que leis trabalhistas pioram a situação dos que mais precisam de emprego; o protecionismo é péssimo para a indústria nacional; a privatização ajuda o meio ambiente; o lucro é belo. Conforme a análise de "Veja", tais conceitos são "insights incomuns para demolir narrativas consolidadas sobre o Brasil". Narloch, que possui um blog no site da revista intitulado "O Caçador de Mitos", é alguém que, segundo o texto, "rejeita as platitudes usuais sobre as mazelas do capitalismo". Narloch acha que a desigualdade econômica no Brasil se deve às diferentes realidades regionais de um país muito extenso e à maior taxa de natalidade dos pobres em relação aos ricos. Para o jornalista, quase não há trabalho escravo no Brasil, pois a lei brasileira é que acaba utilizando esse termo para turnos mais longos que o permitido ou com condições laborais tidas como degradantes ao gosto dos auditores. Narloch refuta, também, o desfavorecimento das mulheres em relação aos homens no mercado de trabalho. De acordo com Narloch, as mulheres ganham menos porque trabalham em profissões diferentes, dedicam menos horas ao trabalho, tem em média menos experiência e não demonstram a mesma ambição na carreira que os homens. A síntese do pensamento do autor de "guias" é a de que o real responsável pelo progresso da vida humana na Terra não são filantropos, políticos e intelectuais, mas o mercado. Após tão "acurada" apreciação do livro, não é necessário lê-lo para saber do que se trata. Esse guia, como os outros de Narloch, não passa de estupidez travestida de racionalidade.