sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Mais um 20 de setembro

Hoje é dia 20 de setembro. No Rio Grande do Sul, é feriado, pois comemora-se a Revolução Farroupilha. Trata-se de uma das comemorações mais excêntricas de que se tem notícia. Afinal, a referida revolução, depois de 10 anos de refregas, terminou derrotada. Foi um movimento separatista organizado por estancieiros inconformados com a elevação, por parte do governo imperial, das taxas cobradas sobre o charque, principal produto da economia gaúcha da época. A chamada República Rio-Grandense, portanto, teve uma existência muito curta. Outro fato que deve ser ressaltado é que a capital do Estado, Porto Alegre, e Rio Grande, seu único porto marítimo, rechaçaram todas as tentativas dos revolucionários de ocupá-las. A república gaúcha, em sua breve duração, teve várias capitais, em municípios que, ainda hoje, possuem pouca expressão demográfica e econômica. Depois de 10 anos, os revolucionários entraram em acordo com o Império, pondo fim ao movimento separatista. Uma história que ainda ficou manchada, em seu final, pelo massacre de Porongos, onde os negros escravos que lutaram junto com os farroupilhas foram por eles traídos e entregues ao ataque das forças imperiais. Nada disso impediu que, em torno do episódio farroupilha se criasse toda uma apologia que só faz crescer. A exaltação á "Guerra dos Farrapos", que sempre foi grande, ao ponto da bandeira da extinta república ter sido adotada como pavilhão do Rio Grande do Sul, aumentou ainda mais a partir do surgimento do chamado movimento tradicionalista, encabeçado, entre outros, por Barbosa Lessa e Paixão Cortes, que faz uma defesa apaixonada do que seriam as "raízes culturais" do Estado. O movimento tradicionalista é tentacular, está em todos os lugares. Seu marketing é agressivo e coercitivo, tentando impingir a todos as suas "verdades" e valores. Tornou-se tão forte que ninguém se dispõe a bater com ele de frente. Governantes e meios de comunicação cedem às suas imposições, ajudando a propagar a mentira histórica que faz de um movimento elitista de senhores proprietários de terra uma "revolução" e que ignora a derrota final transformando-o num feito a ser exaltado ao longo do tempo. Muitos são os que sabem ser tudo uma grande empulhação, mas poucos os que se encorajam a enfrentar a colossal máquina de propaganda dos defensores do gauchismo. Assim, a cada ano, são mais atividades, desfiles, programas de televisão e reportagens de jornais tonitruando as façanhas farroupilhas. Em tudo isso, uma grande vítima agoniza diante de todos: a verdade. Ela, no entanto, não serve aos interesses dos que faturam com a ideologia "gaudéria". Todos os que ousam tentar ir, publicamente, na direção contrária, são logo abatidos pela poder de fogo dos tradicionalistas, que querem fazer crer que quem não lê pela sua cartilha não é gaúcho e deve, então, abandonar os "pagos" e cantar em outra freguesia. Nada pode ser mais fascista do que isso.