terça-feira, 19 de junho de 2012

Aliança espúria

A política, no Brasil, não deveria surpreender mais ninguém. Afinal, sua capacidade de produzir indecências parece ilimitada. Ainda assim, a aliança firmada pelo PT com Paulo Maluf para favorecer o candidato do partido a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, é algo estarrecedor. Como primeira consequência do acordo, a ex-prefeita de São Paulo Luíza Erundina (PSB) desistiu de concorrer a vice-prefeita na chapa de Haddad. Nos últimos anos, em nome da "governabilidade" ou apenas para aumentar a densidade eleitoral de candidatos, os partidos tem se unido em alianças extravagantes. Não há mais nenhuma coerência ideológica. Partidos de esquerda se coligam com siglas de direita como se fosse a coisa mais natural do mundo. O partido de Maluf, o PP, atual nome da Arena, que dava sustentação ao regime militar, agora apóia candidatos do PT, como Haddad, e do PDT, como o prefeito de Porto Alegre, e candidato à reeleição, José Fortunatti. Ora, o PT é o partido do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, inimigo histórico da ditadura militar. O PDT foi fundado por Leonel Brizola, outro a quem a direita brasileira sempre perseguiu e que chegou a ficar exilado por 15 anos durante o regime militar. Como explicar, então, que ambos os lados  esqueçam suas diferenças e se unam na busca de vitórias eleitorais? Isso se dá, infelizmente, porque a política, no Brasil de hoje, é feita sem nenhum idealismo, é apenas um negócio. Os atores da cena política estão interessados, somente, em manter-se no poder e obter as vantagens dele decorrentes. Na busca desses objetivos, não há lugar para escrúpulos ou constrangimentos. O que seria impensável em outros tempos, acaba se mostrando diante de nossos olhos incrédulos, como a foto de Lula e Maluf trocando sorrisos, em companhia de Haddad. A atividade política no país, se é que possuía algum resquício de decoro, o perdeu, inapelavelmente.