sábado, 11 de maio de 2013

Ativismo gaúcho

Os protestos, passeatas e manifestações públicas de diversos conteúdos são um sinal de saúde política de um país. Nada pior que uma população inteiramente passiva, que a nada reage, aceitando qualquer tipo de imposição. No Rio Grande do Sul, todavia, o ativismo está se tornando um hábito, num permanente estado de contrariedade com quase tudo. Ainda está na memória coletiva a ocasião em que o boneco do mascote da Copa do Mundo de 2014, o tatu-bola, foi destruído por uma turba enfurecida no centro de Porto Alegre. Uma ação estúpida e injustificada, motivada, supostamente, por um repúdio à Fifa e às multinacionais que com ela colaboram. Em 2000, o relógio comemorativo aos 500 anos da descoberta do Brasil, concebido pelo designer Hans Donner, também foi destruído, numa forma de protestar contra a Rede Globo, responsável pela iniciativa. Mais recentemente, o corte de árvores na região da Usina do Gasômetro, com o intuito de realizar obras viárias, foi alvo de protestos furiosos. Longe de ser uma cidade bonita e não possuindo atrativos turísticos, Porto Alegre tem contra si, ainda, a extrema dificuldade de fazer andar qualquer projeto mais ousado para transformar sua desolada paisagem. A revitalização do cais do porto, iniciativa que tramita há mais de uma década, esbarra em toda a sorte de entraves. Enquanto isso, a área do porto, que pelo projeto ganharia bares, restaurantes e uma nova configuração que a tornaria um local de lazer e turismo, continua a exibir sua imagem de decadência e abandono. A orla do Guaíba é outra fonte de protestos irados. No caso, a grita é contra a possibilidade de que ela venha a ser tomada por empreendimentos imobiliários que a descaracterizariam e privatizariam o que deve ser de usufruto público. Argumentos, sem dúvida, muito ponderáveis. Porém, como está é que não pode ficar. Se a ideia é fazer com que a orla possa ser desfrutada por todos, para que apreciem o famoso pôr do sol e a paisagem do Lago Guaíba, é preciso embelezar a área, dar-lhe condições de ser frequentada. Simplesmente relegá-la ao descaso não é bom para ninguém. Esse mau humor crônico contra qualquer proposta arquitetônica ou viária para a cidade não é resultado de um alto grau de politização, como podem pensar alguns. Sim, é preciso resistir ao massacrante ímpeto destruidor do capitalismo, com sua devastação ambiental, sua sôfrega especulação imobiliária e todos os danos que proporciona à qualidade de vida nas cidades em nome de sua sede de lucro. Uma cidade, no entanto, é um organismo em constante mutação, não pode parar no tempo. Deixar de construir ou ampliar uma avenida para não ter de cortar algumas árvores, impedir o andamento de um projeto de revitalização de uma zona portuária sucateada, condenar a orla lacustre a ser, tão somente, um matagal que acumula lixo e entulho, não é nada politizado, nem sequer inteligente. As manifestações arroladas ao longo desse texto são, apenas, insensatas e patéticas. O ativismo gaúcho tem como únicos efeitos concretos deixar o Rio Grande do Sul, cada vez mais, entregue à exaltação de um passado pretensamente glorioso, e ficar para trás na marcha do presente.