domingo, 30 de dezembro de 2012

Discurso pobre

Roberto Carlos é um dos maiores astros da música brasileira em todos os tempos. Em 51 anos de carreira, são muitas músicas de sucesso e milhões de cópias vendidas. Seu mais recente lançamento, um EP com quatro músicas, sendo apenas duas inéditas, já vendeu 1,5 milhão de cópias. Seu talento como cantor e compositor é inegável, ainda que, é claro, haja quem dele não goste. Também é sabido que Roberto Carlos não tem o lastro cultural de outras grandes figuras da música brasileira, como Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso e Gilberto Gil, por exemplo. Mesmo assim, é constrangedora a forma limitada como Roberto Carlos se expressa fora de suas composições. Ele praticamente não concede entrevistas e, quando o faz, nada diz de substancial, limitando-se a falar de sua obra sem maior profundidade, usando um vocabulário escasso e repetitivo. Hoje, ao receber o Troféu Mário Lago, concedido pela Rede Globo, Roberto Carlos extrapolou nesse aspecto. Numa entrega de prêmio ou troféu, é esperado que o agraciado realize um pronunciamento, declarando a sua satisfação em tê-lo recebido e fazendo agradecimentos. Roberto Carlos se limitou a repetir a expressão que usa há anos em seus shows: "Muito obrigado por todo esse carinho, por todo esse amor". Nem mesmo quando depoimentos gravados exaltando-o foram mostrados ele foi capaz de falar qualquer coisa. O que explicaria esse tipo de comportamento? Medo de dizer algo fora de lugar? Falta de confiança na própria capacidade de expressão? Ora, até para isso haveria solução, pois bastaria contratar alguém para treinar sua fala. Em outras ocasiões o mutismo de Roberto Carlos é, até, aceitável, mas, hoje, foi imperdoável. Ao receber um troféu e praticamente nada falar a respeito, Roberto Carlos deixou a impressão, um tanto contraditória, de ser um compositor inspirado, mas um homem que não sabe o que dizer.