terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sarney e Itamar

O dia de hoje marcou a posse de deputados federais e senadores para o início de mais uma legislatura. Foi também o dia de eleger os presidentes e as mesas diretoras das duas casas. Pois, para revolta de muitos, José Sarney foi reeleito presidente do Senado, a despeito de seu tortuoso histórico político. Sarney desconhece o que é ser oposição. Em mais de 50 anos de atividade política, foi amigo de todos os presidentes da República, de João Goulart a Lula, passando pelos generais do regime militar. Não será diferente com  Dilma Roussef. O próprio Sarney exerceu o mais alto cargo do país, mas, findo o seu mandato, em nenhum momento deixou a cena política, demonstrando sua avidez pelo poder. Por outro lado, também tomou posse hoje, como senador por Minas Gerais, Itamar Franco. Suas semelhanças com Sarney são as condições de ex-presidentes da República e octogenários. Somente isso, pois Itamar é vinho de outra pipa. Ao contrário de Sarney, que a esmagadora maioria das pessoas gostaria de ver afastado em definitivo do meio político, a volta de Itamar ao Senado é uma boa notícia para o país. No curto período em que foi presidente, de apenas dois anos, completando o mandato de Fernando Collor de Mello, que foi  cassado, Itamar teve um bom desempenho. Em seu governo foi gestado o Plano Real, até hoje tão elogiado por tantos. A grande imprensa, manipulando a verdade, como de hábito, creditou os louros do plano exclusivamente ao ministro da Fazenda de Itamar, Fernando Henrique Cardoso, que, na esteira do sucesso do mesmo, elegeu-se presidente logo a seguir. A mesma imprensa procurou caracterizar Itamar Franco como um sujeito provinciano, parvo, de idéias curtas, criador de uma tal "república do pão de queijo", aludindo a sua ligação com Minas Gerais. Tudo isso porque, entre outras qualidades, Itamar mostrou ser um nacionalista, um defensor da soberania nacional, coisa que a grande imprensa, adepta permanente do imperialismo e da globalização, não tolera. Itamar, que em 1974, ao se eleger senador junto com outros nomes do então MDB, começou a aplainar o caminho que levaria ao fim do regime militar, volta ao mesmo cargo para, certamente, dar novas contribuições ao país. Seu retorno, já em idade avançada, servirá para o digno encerramento de uma trajetória política. Itamar não tem a astúcia de Sarney, o gosto pelos factóides de Collor, o charme pessoal de Fernando Henrique, nem o carisma de Lula, para ficarmos apenas nas comparações com os outros presidentes pós-ditadura militar. Tem porém o mérito, de sempre ter estado na defesa dos interesses maiores do país. Ainda que o termo esteja desgastado, Itamar é um patriota, o que, no atual quadro político do Brasil, é uma qualidade rara e apreciável.