sábado, 27 de julho de 2013

O legado da jornada

Amanhã terminará a Jornada Mundial da Juventude, e o Papa Francisco retornará ao Vaticano. Durante toda a semana, o Brasil voltou seus olhos para o Rio de Janeiro. Francisco, inegavelmente um papa simpático e carismático, mobilizou multidões. Hoje, em Copacabana, 3 milhões de pessoas estiveram presentes a mais um contato com o pontífice. Um número verdadeiramente impressionante, pois representa o dobro da população de Porto Alegre concentrada nos poucos quilômetros de Copacabana. O sucesso de público de Francisco, portanto, é inegável. A cobertura midiática de sua estada no Brasil foi ampla. No entanto, aproximando-se o momento do final da Jornada e do retorno do papa ao Vaticano, impõe-se o questionamento sobre o que ficará como legado para a Igreja e a sociedade dessa semana tão intensa. A escolha de Francisco como papa não se deu por acaso. Seu despojamento, sua opção pelos pobres, sua fala objetiva e sem rodeios, sua acessibilidade, são essenciais para tentar dar uma nova imagem a uma Igreja marcada por escândalos e pelo distanciamento de seus fiéis. O fato de ser um sul-americano também não é aleatório, pois a América do Sul é o lugar do mundo onde, mesmo perdendo adeptos como em todas as outras regiões do globo, a Igreja ainda é largamente preponderante. Porém, o que de prático a passagem de Francisco pelo Brasil irá mudar na relação da Igreja com seus fiéis e no encolhimento do número de adeptos? Muito pouco. Mesmo encantadas com a simpatia de Francisco, as pessoas não irão aceitar as imposições e os dogmas da Igreja. Mesmo entre os que se declaram católicos, a maioria aprova o uso da camisinha e da pílula anticoncepcional, práticas condenadas pela Igreja. Pouquíssimas pessoas nos dias de hoje, mesmo entre os fiéis, estão dispostas a manterem a castidade antes do casamento, outra preceito defendido pela Igreja. Até mesmo a homossexualidade, ainda rejeitada pela maioria da população, não recuará no seu avanço rumo a aceitação pela sociedade. O papa foi muito bem recebido no Brasil, que viveu uma semana de festa em torno de sua figura, mas nem mesmo o seu carisma será capaz de reverter a perda de fiéis para outras religiões nem o constante aumento do ateísmo. Se não revisar suas posturas e alterar significativamente o seu discurso, a Igreja terá sua crise agravada. Nada indica, contudo, que isso venha a acontecer.