sábado, 23 de maio de 2020

Os amigos de Bolsonaro

Não bastasse a divulgação de um vídeo com conteúdo estarrecedor, o presidente Jair Bolsonaro, em entrevista concedida na parte externa do Palácio do Planalto, ontem, revelou algo ainda mais absurdo. O ex-capitão disse que, por ter "amigos" nas polícias civil e militar do Rio de Janeiro, foi avisado de ações de busca e apreensão nas casas de seus filhos que seriam determinadas pelo governador Wilson Witzel. Conforme Bolsonaro, Witzel deseja ser presidente, e, para isso, quer lhe prejudicar, bem como aos seus familiares. Na argumentação de Bolsonaro, Witzel pretendia "plantar provas" contra seus filhos. Deixando de lado a leviandade das declarações de Bolsonaro em relação às intenções de Witzel, o núcleo de suas afirmações é inadmissível para um presidente. Entre as prerrogativas do ocupante do cargo não está a de ter um sistema de informações paralelo. Os amigos do presidente não podem lhe fornecer informações privilegiadas, nem receber proteção do Gabinete de Segurança Institucional, como Bolsonaro reinvidicou na deprimente reunião que veio ao conhecimento público da opinião pública com a liberação do vídeo, ontem. Não houve, por parte de Bolsonaro, o esclarecimento de quando se deu o fato, nem de quem são os tais informantes. Os amigos de Bolsonaro representam mais um escândalo, dos tantos produzidos por esse governo dantesco. O esgarçamento ético do país, que atingiu um nível abissal, faz com que se conviva com naturalidade com uma situação inaceitável. Se as instituições do país estivessem funcionando normalmente, como alegam os promotores do golpe que derrubou uma presidente legitimamente eleita, Bolsonaro já teria sido alijado do cargo há muito tempo.