sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Nada será como antes

O título acima, lamentavelmente, não é uma referência a belíssima composição de Beto Guedes e Milton Nascimento, imortalizada na voz de Elis Regina. Ele remete ao que será a vida de cada brasileiro após a eleição presidencial. Nunca, em toda a sua história, o país esteve tão dividido. O problema é que essa divisão não se dá entre grupos fechados e desconectados. O conflito entre os apoiadores do fascista Jair Bolsonaro e os defensores da democracia se dá dentro das famílias, entre parentes e amigos, colegas de trabalho. O antagonismo dessas posições é tão grande que, seja qual for o resultado da eleição, a recomposição de relações abaladas será muito difícil, senão impossível. Afinal, não se trata de uma discussão sobre quem é melhor, se Pelé ou Maradona. O que está em questão é muito maior. Autoritarismo e violência, de um lado, humanismo e tolerância, do outro. A inconformidade com o resultado, por parte de quem for derrotado, será gigantesca. Amizades serão desfeitas, famílias ficarão cindidas, parentes irão romper relações, vizinhos se tornarão beligerantes. A disputa que está ocorrendo no Brasil é entre civilização e barbárie. Não há entendimento possível entre os que possuem posições tão díspares. Por isso é que nada será como antes. Relações que pareciam sólidas, construídas ao longo de uma vida, irão se esfarinhar. Certas fraturas são definitivas, não podem ser reconstituídas.