terça-feira, 7 de abril de 2020

O vírus não escolhe vítimas

A pandemia de coronavírus já gerou uma série de falsas verdades. Doença desconhecida até há pouco pela medicina, os fatos pretensamente concretos afirmados sobre ela não são mais que meras especulações. Algumas dessas falsas verdades são risíveis, como é o caso de que idosos e pessoas com comorbidades constituem os grupos de risco para a doença. Trata-se de uma constatação que serve para qualquer outra doença, ou, até mesmo, na ausência de uma enfermidade. Uma pessoa idosa já viveu muito, e seu organismo está mais desgastado. Assim, é óbvio que, diante da epidemia de qualquer doença suas chances de ser vitimada é maior do que a de outras pessoas. O mesmo se dá com quem tem doenças crônicas. Em comparação com os que não possuem essa condição, seu organismo é mais suscetível às enfermidades. Dessa forma, colocar os dois grupos como "de risco" para o coronavírus é apenas uma maneira de os estigmatizar. Ao contrário do que foi apregoado nas primeiras semanas da pandemia, o vírus não escolhe vítimas. Entre as pessoas que já morreram da doença, há bebês, crianças, adolescentes, jovens, adultos de meia-idade, idosos e anciãos. Muitas dessas vítimas não tinham nenhuma comorbidade, e cultivavam hábitos de vida saudáveis. Outra afirmação falsa travestida de verdade é de que a letalidade da doença é de pouco mais de 2%. No Brasil, com os dados colhidos até hoje, ela é de quase 5%. Portanto, é preciso encarar o fato de que o coronavírus é "democrático", pois atinge a todos, sem distinção de idade, condição de saúde, etnia, nível de renda, ou qualquer outro fator. O isolamento vertical, em que só idosos e pessoas com comorbidades ficam em confinamento é sem eficácia, e estigmatiza cruelmente dois segmentos populacionais. O coronavírus é uma ameaça a todos, sem exceção, e é assim que deve ser enfrentado.