terça-feira, 16 de agosto de 2011

Impostos maiores

Warren Buffet, o terceiro homem mais rico do mundo, segundo a revista "Forbes", fez um pedido inusitado para alguém na sua condição. Buffet solicitou aos políticos de seu país, os Estados Unidos, que aumentem os impostos para multimilionários como ele. O empresário quer que os Estados Unidos deixem de "mimar" os mais ricos com isenções fiscais. "Chegou a hora de o nosso governo falar sério sobre o sacrifício compartilhado", disse Buffet. A manifestação é surpreendente, tendo em vista o seu autor, e elogiável, pelo grau de consciência da realidade que revela. A crise econômica que abala os Estados Unidos, e que fez o país, pela primeira vez, decrescer na avaliação de uma agência de classificação de risco, coloca em xeque, cada vez mais, os fundamentos do "american way of life". O horror dos americanos ao aumento de impostos traduz uma sociedade alicerçada na busca da prosperidade individual, sem contrapartida social. Cada um cuida só de si, a livre iniciativa é elevada a uma condição quase sagrada, e o êxito pessoal é incentivado ao ponto de se dividir as pessoas em dois grupos, os vencedores e os perdedores. Por essa ótica, empreender, fazer fortuna, prosperar, é tornar-se um vencedor. Os que não se enquadram nessa moldura, são perdedores. O modelo americano tornou-se dominante do final da Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje, mas seus sinais de debilidade são, cada vez, mais evidentes. A colossal máquina de propaganda dos valores americanos, ajudada pela sabujice e pelo servilismo da grande imprensa ocidental, tentam negar o óbvio e desqualificar os argumentos que apontam para a crise do modelo que veneram. A manifestação de Buffet seria alvo de toda a sorte de invectivas, caso partisse de um "dinossauro" do esquerdismo. Sendo seu autor um expoente do capitalismo, mostra que conceitos tidos como inamovíveis pelos americanos tem de começar a serem revistos. Uma sociedade não pode ser erigida apenas com o incentivo à prosperidade individual, ao acúmulo de capital. Precisa distribuir sacríficios entre todos os seus integrantes. Se a busca do progresso pessoal é um direito de cada um, a promoção da justiça social é um dever de todos, a começar pelos governos.