terça-feira, 13 de agosto de 2013

O movimento que não aceita críticas

Há certos assuntos que, por vezes, nos vemos inclinados a evitar, não por temermos abordá-los mas pelas condições que possuem de despertarem reações iradas e produzirem polêmica. No Rio Grande do Sul, tudo o que se refira ao chamado "tradicionalismo", é um terreno minado. O Movimento Tradicionalista Gaúcho é uma organização tentacular que procura se fazer onipresente na vida cultural do Estado. Os tradicionalistas estão convencidos de que tem a tarefa de defender a "autêntica" cultura gaúcha, cultuando suas raízes. Durante o ano, vários festivais musicais "nativistas" são realizados em diversos municípios do Estado. No mês de setembro, quando se comemora a "Revolução Farroupilha", são inúmeros os festejos, que tem, como um de seus pontos altos, o Acampamento Farroupilha, montado no Parque da Harmonia, em Porto Alegre. Até nos meses de verão, em que os interesses se voltam para o litoral, os tradicionalistas marcam a sua presença, promovendo cavalgadas, tanto nas praias de mar quanto nas da costa doce. Trata-se de um movimento que não recebe bem nenhum tipo de critica. Seus integrantes hostilizam os que não compartilham de seu apreço pelo gauchismo. Tivemos, agora, mais um exemplo disso. Luiz Cláudio Knierim, diretor-técnico do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, teve de pedir afastamento da Comissão Municipal de Festejos Farroupilhas, por força de uma expressão que usou e que ofendeu os defensores do tradicionalismo. O que Knierim disse de tão grave? Ao referir-se às precárias condições de combate a incêndio no Acampamento Farroupilha, que reúne milhares de pessoas, Knierim classificou-o de "favelão gaudério". Foi o que bastou para que se criasse um grande mal-estar entre os demais participantes da comissão, o que levou Knierim a solicitar seu desligamento. O presidente do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, Rodi Borghetti, concordou com a precariedade das condições de combate a incêndio no acampamento, mas disse que "não era preciso esse esculacho". O Secretário Municipal de Cultura de Porto Alegre, Roque Jacoby, avaliou a colocação de Knierim como "desprezo em relação à cultura gaúcha". A afirmação de Jacoby soa como uma insensatez. Afinal, se Knierim é diretor-técnico do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, certamente tem apreço pela cultura gaúcha. O fato apenas demonstra, pela enésima vez, que o tradicionalismo é um movimento que se coloca  acima do bem e do mal, não tolerando nenhuma crítica. O Rio Grande do Sul tem pago um preço muito alto por esse culto exacerbado ao que seria a sua cultura autêntica, mas isso é assunto para outra ocasião. No momento, já seria extremamente benéfico se as pessoas se dispusessem a refletir de porque não é dado a quem nasce no Rio Grande do Sul o direito de não seguir a cartilha do tradicionalismo.