sexta-feira, 1 de junho de 2012

Em busca do encanto perdido

O futebol é o esporte preferido da maioria das pessoas em todo mundo, e movimenta multidões que frequentam os estádios e assistem os jogos pela televisão. Gera ídolos, constrói fortunas. Porém, tornou-se uma atividade que envolve enormes quantias na aquisição de jogadores, nos salários pagos para eles e outros profissionais, nos direitos de transmissão das competições, nas comissões de empresários e agentes, e isso acabou por corrompê-lo. Hoje, o interesse financeiro está acima de tudo. Jogadores fazem questão de dizer que vão para onde lhes pagarem melhor. Seus empresários, por vezes, estabelecem um verdadeiro leilão, um "quem dá mais", para definir para quais clubes eles irão. Os contratos estabelecem altas multas rescisórias, para ambas as partes. Tudo gira em torno de cifras altíssimas. Tanto dinheiro, é claro, atraiu a atenção dos corruptos que, movidos pela possibilidade de obter grandes lucros, passaram a atuar na manipulação de resultados de jogos incluídos em loterias e bolsas de apostas. Há exatos 30 anos, em 1982, estourou no Brasil o caso da "máfia da Loteria Esportiva", com a revelação de que os jogos incluídos nessa modalidade de apostas eram alvo da ação de pessoas que subornavam jogadores e árbitros para manipular o resultado das partidas, alcançando, assim ganhos milionários. A Loteria Esportiva, que havia sido instituída no país em 1970 e obtivera enorme sucesso popular, alçando muitas pessoas humildes à fortuna, ficou desmoralizada e jamais recuperou sua credibilidade, acabando por ser extinta. A retomada dessa forma de loteria foi tentada, mas não obteve êxito. Ainda no Brasil, em 2005, aconteceu o escândalo da manipulação de resultados que levou a que 11 jogos do Campeonato Brasileiro, todos apitados pelo árbitro Edílson Pereira de Carvalho (SP), tivessem de ser realizados novamente. O problema, contudo, não se restringe ao Brasil. Sua face mais grave se apresenta na Itália. Lá, os casos de corrupção no futebol são cíclicos e já geraram suspensões de jogadores e até a cassação de títulos de campeão. No entanto, apesar do rigor das punições, é uma situação longe de ser solucionada. Novos denúncias de manipulação de resultados surgiram no futebol italiano e já tiveram como consequência, entre outros fatos, o corte do lateral-esquerdo Criscito da seleção da Itália que se prepara para a Eurocopa. O primeiro-ministro da Itália, Mário Monti, chegou a sugerir que o futebol fosse paralisado no país por dois ou três anos, para que se pudesse reorganizá-lo. O técnico da seleção da Itálai, Cesare Prandelli, disse que aceitaria que, diante da situação que vive o futebol do país nesse momento, sua equipe não participasse da Eurocopa. O que está ocorrendo no futebol italiano deveria servir para reflexão não só naquele país, mas em todos os lugares onde é praticado esse esporte tão apaixonante. O futebol encanta multidões, mas como qualquer atividade, precisa de credibilidade. A avidez pelo dinheiro está conspurcando o futebol. Algo há de ser feito para resgatar a sua dignidade.