terça-feira, 21 de agosto de 2018

A morte de um barão da imprensa

O falecimento, hoje, do diretor de redação do jornal "Folha de São Paulo", Otávio Frias Filho, aos 61 anos, obteve grandes espaços nos meios de comunicação. Sua memória foi exaltada. Seus méritos foram ressaltados. Frias Filho teria criado, na "Folha", a partir de 1984, quando assumiu o cargo, um modelo de jornalismo mais isento e pluralista. Não se vai, aqui, fazer uma depreciação de sua figura. Longe disso. Em sua trajetória, Frias Filho foi expandindo seus horizontes, e escreveu peças de teatro e livros, inclusive infantis. No entanto, ainda que fosse um homem discreto e avesso aos holofotes, o que se aborda é a morte de um barão da imprensa. No Brasil, a imprensa é dominada por grandes famílias, que legam aos veículos de sua propriedade a defesa de seus interesses e da "sociedade de mercado". Agem assim as famílias Frias (Grupo Folha), à qual pertencia o falecido, Marinho (Organizações Globo), Mesquita (O Estado de São Paulo), Sirotsky (RBS), entre outras. A criação de um jornalismo mais isento e pluralista não deveria ser motivo de destaque na biografia de um diretor de redação. Afinal, esses são atributos indispensáveis na prática do bom jornalismo. Porém, como os grandes jornais brasileiros expressam a visão sectária dos seus proprietários e da elite econômica do país, isso é visto como um mérito a ser destacado. O próprio termo "jornalista", atribuído a Frias Filho, do mesmo modo como se faz em relação ao falecido dono das Organizações Globo, Roberto Marinho, é uma impropriedade. Frias Filho e Roberto Marinho, bem como os integrantes das famílias Mesquita e Sirotsky, não são jornalistas, e sim dirigentes de veículos de comunicação dos quais foram ou são herdeiros. Não tiveram formação para o exercício da profissão, seja ela prática ou técnica. Pelo contrário, todos os barões da imprensa lutaram pelo fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, o que acabaram conseguindo, por decisão do execrável Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal. Por mais que fosse afeito às letras, a ponto de ter se tornado dramaturgo e escritor, Frias Filho era, fundamentalmente, o herdeiro de um grupo empresarial.