segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Felicidade

O jornal "Zero Hora", em sua edição de ontem, publicou uma interessante matéria tendo como tema a felicidade. Trata-se de um assunto pertinente, nesse período em que um ano se encerrou e outro se inicia. Como bem colocou a matéria, felicidade é um conceito vago, variável em diferentes épocas e culturas. Porém, e o texto também aborda esse aspecto, vivemos, atualmente, uma tentativa de padronização da felicidade, estabelecendo determinados propósitos que devem ser atingidos para que ela seja alcançada. Essas metas pré-estabelecidas estão, invariavelmente, ligadas ao consumismo. Dessa forma, para ser feliz seria necessário ter um bom padrão de vida, morando numa bela casa, tendo um bom carro, viajando com assiduidade ao exterior, comprando artigos caros. O que se vê, no entanto, como resultado da busca por esse modelo de felicidade, é uma enorme frustração, ou, até mesmo, depressão. Os que alcançam todas essas conquistas, depois de obtê-las, percebem que seu vazio interior não foi preenchido. Sentem-se tão infelizes quanto antes. Os que não conseguiram atingir essa ascensão no plano material, sofrem por acreditar que essa é a razão de não serem felizes. Todos, portanto, ricos ou pobres, ainda que por motivos diferentes, sentem-se insatisfeitos, incompletos. Primeiro, porque a felicidade completa não existe, é uma ilusão. Em segundo lugar porque buscam a felicidade onde ela não está, na abastança material. A felicidade não é fácil de se conseguir, mas não é cara. Ela está presente em coisas simples. Amor, carinho, amizade, solidariedade,  convivência familiar, uma vida menos estressante, atividades de lazer, são caminhos mais eficientes no rumo da felicidade do que várias sacolas cheias de compras. Falamos em felicidade mais do que em qualquer outro momento da história, e estamos, a cada dia, mais distanciados dela. Ao nos depararmos com uma realidade totalmente diversa da felicidade propalada pela publicidade, apelamos para o álcool, as drogas, os ansiolíticos, os antidepressivos. Também neles não encontraremos o que tanto buscamos. Ser feliz exige esforço, mas não é caro, nem possui uma fórmula química. Mais do que tudo, para ser feliz é preciso redimensionar os valores sobre os quais se assenta a sociedade. Enquanto estivermos tomados pela fúria consumista e pela ideia de que só uma vida trepidante pode nos fazer felizes, estaremos cada vez mais longe de alcançar esse objetivo. Vivemos os estertores de um processo civilizacional voltado para o consumo. Ele terá de, necessariamente, ser sucedido por um retorno a uma procura maior pela reflexão, pela interiorização,  por uma visão mais humanista, da busca por valores sólidos e não descartáveis. Só quando esse dia chegar é que poderemos avistar, ao menos em perspectiva, essa tão almejada felicidade.