sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Assassinato emblemático

Não poderia haver um fato mais simbólico de uma situação que as vozes oficiais do país, ao longo da história, insistem em negar. O assassinato, ontem, de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, espancado por seguranças de uma das lojas dos Supermercados Carrefour, em Porto Alegre, escancara o racismo existente no país. Tão revoltante quanto a morte brutal de João Alberto foram as declarações sobre o fato do jornalista ultrafascista Rodrigo Constantino e do vice-presidente Hamilton Mourão, que disseram que o crime não tem nenhuma conexão com o racismo, pois sustentam ambos, isso não existe no Brasil. Ao contrário do que afirmam Constantino e Mourão, o racismo existe, sim, no Brasil, e é gigantesco. O que aconteceu ontem foi um assassinato emblemático, já que ocorreu na véspera do Dia da Consciência Negra, hoje comemorado, data que é feriado estadual em várias unidades da federação. Não é por acaso que o fato tenha ocorrido no Rio Grande do Sul, um dos estados que sempre se recusou a adotar o feriado na data. Proposições nesse sentido foram sistematicamente rejeitadas pela Assembleia Legislativa local. Os negacionistas Constantino e Mourão entendem que estão tentando importar o movimento ocorrido nos Estados Unidos em função do assassinato de George Floyd, sem que haja racismo no Brasil. Claramente, os dois temem a repetição, no Brasil, do que ocorreu na terra de Tio Sam. A morte de Floyd, certamente, foi um dos fatores que contribuíram para que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não se reelegesse. As recentes eleições municipais no Brasil, com homens e mulheres da etnia negra obtendo cadeiras nas câmaras de vereadores, e o fracasso de candidatos a prefeito apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro, sinalizam os ventos da mudança. As falas de Constantino e Mourão são o berro de quem sente que os ventos estão mudando de lado, e que a sorte de Bolsonaro não será diferente da de Trump. O assassinato covarde e abjeto de João Alberto não será em vão. A partir de um ato tão repugnante, um novo Brasil começará a surgir. A aventura fascista no país irá desmoronar.