sábado, 2 de julho de 2011

Itamar Franco

O Brasil perdeu hoje mais do que um ex-presidente. Perdeu um homem digno e honrado, algo, atualmente, cada vez mais raro. Itamar Franco conseguiu construir uma longa e sólida carreira política sem enlamear-se, sem atropelar os principios éticos, sem corromper-se. Como presidente, em apenas dois anos de atuação, completando o mandato de Fernando Collor de Mello, que havia sido deposto, marcou indelevelmente sua passagem pelo cargo, como mentor do Plano Real. Seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, acabou por suceder-lhe no cargo de presidente, onde ficou por oito anos. Afora ser honesto e íntegro, o que já não é pouco, Itamar era um nacionalista. Era visível a sinceridade de seu amor ao país. Certa revista de circulação nacional, de linha editorial marcadamente direitista e americanófila, tentou por todos os meios desfazer da figura de Itamar. Tratava-o como um provinciano, um parvo, um inepto, de limitada condição intectual. Ora, a mesma revista sempre carregou nas críticas contra Leonel Brizola, outro nacionalista apaixonado. Os elogios de tal publicação sempre foram reservados para entreguistas como os economistas Roberto Campos e Maílson da Nóbrega ou para nulidades políticas como o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Esse tipo de crítica fomentada por interesses contrariados, no entanto, não deslustrou a imagem do grande homem que foi Itamar Franco que, certamente, morreu em paz e com a consciência do dever cumprido. Para todos que ainda prezam a retidão de caráter, deixa um exemplo e muita saudade.

Uma aposta

A contratação de Julinho Camargo para técnico do Grêmio é uma aposta. Julinho ainda não é um nome consagrado no futebol e vinha trabalhando como auxiliar técnico do treinador do Inter, Falcão. As razões que levaram o presidente do Grêmio, Paulo Odone, a escolher Julinho estão longe de serem misteriosas. Em suas passagens anteriores pelo cargo, Odone fez apostas semelhantes, que se mostraram exitosas. Em seu primeiro mandato (1987-1990), o presidente gremista trouxe, em 1987, Luiz Felipe Scolari, então técnico do Juventude, para substituir o uruguaio Juan Mujica, que havia sido demitido em meio ao Campeonato Gaúcho. Luiz Felipe, em sua primeira passagem por um grande clube, conduziu o Grêmio ao título da competição e encaminhou uma carreira vitoriosa em que conquistou todos os títulos possíveis, inclusive a Copa do Mundo, com exceção do Mundial de Clubes, que por duas vezes disputou e perdeu. Já em seu segundo mandato (2005-2008), Odone contratou, quatro meses após assumir o cargo, o técnico Mano Meneses, que estava no Caxias, para o lugar de Hugo de León, que fora dispensado. Apenas cinco anos e quatro meses depois de chegar ao Grêmio, vindo de um clube do interior do Rio Grande do Sul, Mano Menezes era contratado como técnico da Seleção Brasileira. Há ainda outro exemplo nessa direção, ocorrido na administração do ex-presidente José Alberto Guerreiro (1999-2002). Em 2001, Guerreiro contratou o técnico Tite que, no ano anterior, havia sido campeão gaúcho pelo Caxias numa decisão contra o próprio Grêmio. Tite levou o Grêmio a conquista do seu último grande título até hoje, a Copa do Brasil de 2001. Não chegou à Seleção Brasileira como Luiz Felipe e Mano Menezes, mas trabalhou em grandes clubes e é o atual técnico do Corinthians, clube que, no momento, lidera o Campeonato Brasileiro. Esses exemplos, por certo, é que levaram Odone a se decidir por Julinho Camargo. Em vez de trazer um "medalhão " com altíssimo salário, opta-se por um técnico emergente, em busca de uma afirmação definitiva. Deu certo em outras ocasiões, não se pode saber se ocorrerá o mesmo agora. Uma coisa, porém, parece certa. Por ter trabalhado muitos anos nas categorias inferiores de Grêmio e Inter, Julinho certamente investirá mais nos jovens do que seus antecessores. Para dar um exemplo, Julinho já disse que gosta muito de Mithyuê, que foi seu jogador no time júnior do Grêmio e não vinha sendo aproveitado. O fato de ter sido, nos últimos dois meses e meio, auxilar técnico do treinador do Inter, não deve servir para que se menospreze sua contratação. Há algum tempo se diz que Julinho vem demonstrando ser um técnico de futuro. Agora, chegou a chance de prová-lo. Boa sorte, Julinho Camargo.