terça-feira, 5 de junho de 2012

A apologia da irresponsabilidade

O futebol, no Brasil, é uma atividade que não respeita as regras mais comezinhas observadas em qualquer outro ramo. Em nome da paixão que desperta em milhões de pessoas, toda a sorte de excessos e transgressões são praticadas nesse meio, sem que haja maiores protestos. Os grandes clubes, embora possuam enorme contingente de torcedores e recebam verbas polpudas da televisão, são mal administrados, gastam mais do que arrecadam, e não honram seus compromissos com o governo. Ainda assim, realizam contratações caras e pagam salários altíssimos para alguns jogadores e técnicos. Os jogadores mais badalados e bem remunerados, por sua vez, portam-se como meninos mimados. Apresentam um comportamento sem nenhum traço de profissionalismo, não justificam em campo as fortunas que ganham, levam uma vida pessoal desregrada. O mais espantoso, contudo, é que por mais que aprontem, tais estrelas do futebol sempre encontram quem queira contratá-los, o que estimula a perpetuação desse tipo de comportamento. A contratação de Ronaldinho pelo Atlético Mineiro é mais um exemplo disso. Ronaldinho foi contratado pelo Flamengo com grande estardalhaço, recebia um alto salário, mas jamais correspondeu, em campo, às expectativas do clube e de seus torcedores. Dedicou-se muito mais às festas e baladas do que aos treinos e jogos. Saiu de seu quarto na concentração do clube na pré-temporada de 2012 para um encontro com uma mulher. Há quem diga que chegou a se apresentar para treinar com sinais de embriaguez. Pois, mesmo sabendo de tudo isso, o Atlético Mineiro, três dias depois da saída de Ronaldinho do Flamengo, contratou o jogador. O mesmo Atlético Mineiro, dias antes, havia contratado Jô, que saiu do Inter por má conduta disciplinar. O futebol, no Brasil, como se vê, não tem parâmetro com nenhuma outra atividade profissional. Em que outro ramo pagam-se salários tão altos sem que haja um mínimo de reciprocidade por parte de quem os recebe? Em que outra atividade a exigência de cumprimento de deveres é tão frouxa e a condescendência com deslizes comportamentais é tão grande? Certamente, em nenhum outro meio profissional se verificam tamanhos descalabros. O futebol brasileiro tornou-se uma ilha da fantasia, feita de irresponsabilidade, inconsequência, perdularismo, descumprimento de deveres. Um futebol que, dentro de campo, é um manancial inesgotável de revelação de talentos, fora dele é um exemplo de caos administrativo e de apologia da conduta irresponsável de dirigentes e profissionais. O pior é que não há nenhum sinal de que isso um dia vá mudar, pois não parece haver qualquer movimento nesse sentido.