terça-feira, 27 de maio de 2014

A declaração de Campos

O pré-candidato do PSB a presidente, e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, declarou que é contra a revisão da Lei de Anistia. Campos disse que a referida lei foi a solução encontrada na época para dar fim ao conflito entre a ditadura militar e os que lutaram contra ela, e que a anistia foi ampla, geral e irrestrita para todos. Lamento profundamente que Campos pense assim, ainda mais em se tratando de um neto de Miguel Arraes, figura tão proeminente da esquerda brasileira, que foi levado ao exílio pela execrável ditadura. Trata-se de um candidato de um partido, o PSB, que leva a palavra "socialista" em seu nome, mas que sempre teve pouca expressão política e, hoje, parece ser apenas mais uma sigla entre tantas. Provavelmente, Campos, que até há pouco era um aliado fiel do PT, esteja buscando uma estratégia eleitoral. Ao se dizer contra a revisão da Lei de Anistia, estaria procurando agradar ao eleitorado mais conservador, para o qual os bravos brasileiros que lutaram contra o espúrio regime militar são apenas "terroristas". Várias vezes coloquei, aqui nesse espaço, minha posição de que o Brasil deveria seguir o bom exemplo de seus vizinhos, Argentina e Uruguai, e punir exemplarmente os agentes da ditadura. Ao posicionar-se em sentido contrário, Campos evidencia que ele e seu partido nada tem de "socialistas", e não se mostra a altura da trajetória de seu avô. Na ânsia de retirar o PT do poder, Campos é, apenas, mais um candidato "sem sal", buscando um discurso pragmático para agradar eleitores que rejeitam posturas "radicais". O Brasil não precisa de discursos "conciliadores", propondo que se varra sua sujeira para debaixo do tapete. O argumento de que é preciso olhar para a frente e deixar as feridas do passado para trás, tão ardorosamente brandido por alguns, nada mais é do que um convite à impunidade. Campos demonstra que é um candidato preocupado somente com o resultado das urnas. Deseja ganhar a eleição, mas não tem uma visão de estadista.