quarta-feira, 4 de julho de 2018

O futebol como bode expiatório

Não é de hoje que setores da sociedade brasileira identificam o futebol como algo alienante, que distrai a atenção da população do que seria "verdadeiramente importante". Utilizando-se de uma linha de pensamento rasteira, imputam a atenção dada ao futebol pelos brasileiros como fator determinante para a condição caótica da saúde, educação e segurança no pais. Um mínimo de reflexão evidenciaria a estupidez dessa postura, mas ela continua a prosperar. Nas redes sociais, onde o bom senso e a ponderação não costumam se fazer presentes, as postagens com esse conteúdo aparecem com frequência, e se multiplicam em época de Copa do Mundo. Desde que a atual edição da competição começou, proliferam colocações do tipo "O Canadá não se classificou para a Copa, mas seu povo não está nem aí, pois tem saúde, educação e segurança", e "A Argentina perdeu o jogo. O Brasil perdeu o pré-sal". O que isso tem a ver com aquilo? Não há nenhuma relação de causa e efeito entre os fatos. Será que alguém acha que os excelentes indicadores sociais do Canadá estão diretamente relacionados ao desinteresse de sua população pelo futebol? Nesse caso, como explicar que a Alemanha, outro país de notáveis índices de qualidade de vida, seja uma das maiores potências do futebol e tenha o campeonato com a melhor média de público em todo o mundo? O futebol como bode expiatório das mazelas do Brasil é um recurso frequente de cretinos que se acham muito sabidos. Ao contrário do que eles sustentam, no entanto, a trajetória do Brasil no futebol, como único país a ter participado de todas as Copas do Mundo e ser o detentor isolado da condição de maior vencedor da competição, com cinco títulos, é um dos poucos motivos que ainda restam para que se tenha orgulho do país.