sábado, 31 de maio de 2014

A ética e o pragmatismo

O PT está há 12 anos no comando do governo federal, mas a força do partido reside, basicamente, em dois estados, São Paulo e Rio Grande do Sul. Historicamente, são desses dois núcleos que saem os maiores quadros do partido, em quantidade e qualidade. Porém, o PT gaúcho e o paulista são bem diferentes entre si. O PT paulista é o do "chão de fábrica", das lutas sindicalistas de Luís Inácio Lula da Silva e Vicentinho, entre outros. O PT gaúcho também tem a sua vertente sindicalista, com Olívio Dutra, mas possui uma linha mais intelectualizada, onde são expoentes nomes como Tarso Genro, principalmente, e Raul Pont. A grosso modo, o PT paulista adota uma postura mais prática, o gaúcho fornece a indispensável base teórica. Durante muito tempo, houve uma boa sincronia entre os dois "PT's". O poder, no sentido mais amplo da palavra, sempre pertenceu ao núcleo paulista, até por ser o berço do partido, mas o PT gaúcho nunca deixou de ser valorizado. No entanto, há algum tempo, as diferenças entre um e outro estão ficando mais gritantes. Enquanto o PT gaúcho ainda se mostra um defensor da ética, o paulista decidiu-se por um pragmatismo a qualquer preço. A prova está no noticiário. De um lado, o candidato a senador pelo PT/RS, Olívio Dutra, que em janeiro havia defendido que José Genoíno deveria renunciar ao seu mandato de deputado federal, diz que o ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, é um exemplo dignificante. De outro, Lula e outros membros do PT paulista defendem os "mensaleiros" e selam aliança com Paulo Maluf, visando propósitos eleitorais. O PT e Maluf já haviam se aliado em 2012, na eleição para prefeito de São Paulo. Foi uma ação bem sucedida, pois o candidato do PT, Fernando Haddad, elegeu-se. Agora, a parceria é reeditada na eleição para governador do Estado de São Paulo. Tanto em um quanto em outro caso, o que o PT quer são os preciosos minutos a mais no tempo de tv que o PP, partido de Maluf, pode lhe oferecer. Talvez a estratégia seja, novamente, exitosa, mas a busca da vitória a qualquer preço, aliando-se a um político procurado pela Interpol por desvio de dinheiro público, nada tem a ver com o PT nas suas origens. A ala paulista do partido adotou um pragmatismo idêntico ao de outras siglas, que tudo fazem em nome da conquista do poder. O pouco que resta do PT autêntico, com sua defesa da ética na política, está no Rio Grande do Sul, exemplificado na figura de Olívio Dutra.