domingo, 15 de novembro de 2015

O desencanto brasileiro com a Fórmula 1

Dentro do autódromo de Interlagos a festa foi bonita como sempre, com arquibancadas e demais lugares lotados, a preços elevados. Porém, o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, que teve, hoje, mais uma edição, não alcançou a mesma receptividade por parte de quem estava em casa, sentado no sofá. A Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão da competição no Brasil, perdeu em audiência para a sua principal concorrente, a Record, durante a transmissão da corrida. No transcorrer do ano de 2015, a própria Globo tratou de desprestigiar o produto. Em função da audiência, a Globo deixou de transmitir os treinos classificatórios na íntegra, levando ao ar apenas a terceira e decisiva parte, quando são definidas as dez primeiras posições do grid de largada. As duas corridas anteriores ao Grande Prêmio Brasil sequer foram transmitidas ao vivo pela Globo, que deu preferência a jogos do Campeonato Brasileiro que se realizavam no mesmo horário, e foram mostradas em compacto, após o programa "Fantástico". O crescente desencanto dos brasileiros com a Fórmula 1 tem uma razão clara, que é a falta de pilotos do país capazes de conquistarem vitórias e títulos. No Grande Prêmio Brasil de 2008, quando Felipe Massa ganhou a corrida e perdeu o título na última curva, depois que Lewis Hamilton pulou do 6º lugar para o 5º, a audiência de televisão foi o triplo da verificada hoje. De lá para cá, Massa nunca mais esteve perto de ser campeão, chegou a ficar como único representante do país na Fórmula 1, e, agora, tem a companhia de Felipe Nasr, um piloto de muito talento, mas que ainda está numa equipe pequena e sem chance de obter melhores resultados. O interesse dos brasileiros pela Fórmula 1 foi despertado pela trajetória vitoriosa de Émerson Fittipaldi, ganhador de dois títulos mundiais. Após ele sair de cena, logo surgiram Nélson Piquet, num primeiro momento, e, pouco depois, Ayrton Senna, que ganharam três títulos, cada um. O esporte não sobrevive sem grandes ídolos. Costuma-se dizer que o Brasil, no esporte, vive a monocultura do futebol, mas isso não é bem assim. O brasileiro sempre reconheceu os grandes talentos de todos os esportes. Maria Esther Bueno e Gustavo Kuerten, no tênis, Ademar Ferreira da Silva e João do Pulo, no atletismo, e Éder Jofre, no boxe, foram reverenciados pelos brasileiros. Nos esportes coletivos, a Seleção Brasileira de Basquete Masculino de Amaury Pasos, Wlamir Marques, entre outros, bicampeã mundial, também obteve reconhecimento. Porém, o tênis, o atletismo e o boxe, no Brasil, não produzem grandes talentos de forma sistemática, e sim sazonal, e o basquete masculino jamais tornou a viver um momento tão glorioso quanto aquele. O futebol, ao contrário, sempre produziu grandes ícones no país, o que explica sua consolidação na preferência dos brasileiros. Não houve período, desde a sua introdução no Brasil, em que não fosse revelado um talento notável. Nos primórdios do futebol no país, nas duas primeiras décadas do século passado, surgiu Friendereich. Nos anos 30, junto com o profissionalismo, foi a vez de Leônidas da Silva, o "Diamante Negro". A década de 40 trouxe Zizinho, a de 50, Pelé e Garrincha, a de 60, Gérson, Rivellino e Tostão, a de 70, Zico, a de 80, Romário, a de 90, Ronaldo, e os anos 2000, Neymar. Nunca faltaram talentos diferenciados para manter vivo o interesse dos brasileiros pelo futebol. Nesse sentido, só o vôlei, tanto masculino quanto feminino, apresenta uma realidade semelhante. Desde que o vôlei brasileiro saiu da inexpressividade para tornar-se um colecionador de títulos, há pouco mais de 30 anos, a renovação de valores tem sido constante, o que mantém a qualidade do desempenho e fez com que ele se tornasse o segundo esporte na preferência dos brasileiros, desbancando o basquete. Para que a Fórmula 1 volte a encantar os brasileiros é fundamental que sejam revelados novos talentos capazes de repetir os feitos de Émerson, Piquet e Senna. Afinal, os torcedores de qualquer esporte são movidos a vitórias e, principalmente, títulos.