sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Furor fiscalizatório

O Brasil, infelizmente, é um país que se caracteriza pela omissão do poder público no cumprimento de suas obrigações, e na leniência da população para com tal situação. Tal estado de coisas só é rompido diante de um fato terrivelmente dramático, que cause grande comoção. Evidentemente, a tragédia de Santa Maria (RS), onde mais de 230 pessoas morreram no incêndio da boate Kiss, se encaixa neste contexto. Depois do ocorrido, o país foi varrido, de norte a sul, por um furor fiscalizatório sobre boates e demais casas noturnas, teatros e locais de diversão pública, para verificação de suas condições de segurança. Isto, sem dúvida, é muito bom e deve ser saudado. Duas perguntas, contudo, ficam no ar. A primeira é porque é necessário que aconteça algo tão pavoroso como o incêndio de Santa Maria para que haja tamanha mobilização? O rigor na fiscalização destes locais, em nome da segurança e da integridade de seus frequentadores, deveria ser permanente. A segunda indagação é a de quanto tempo durará o empenho das autoridades nesse sentido. Com o transcorrer do tempo, e o progressivo esquecimento do que houve na boate Kiss, a tendência é que tudo volte ao marasmo de sempre. Numa comprovação de que o mundo se transformou, mesmo, numa aldeia global, um fato ocorrido num município do interior do Rio Grande do Sul, repercutiu em todos os continentes. No Brasil, seus efeitos se fizeram sentir em todos os lugares, até mesmo nas duas megalópoles do país, Rio de Janeiro e São Paulo. Em Manaus, já no dia seguinte à tragédia, 17 casas noturnas foram lacradas por falta de condições ideais de funcionamento. Tem sido assim em praticamente todos os lugares, do Oiapoque ao Chuí. Bom seria que tal aplicação no cumprimento do dever fosse a regra e não a exceção por parte dos poderes constituídos, não dependendo de estímulos como grandes desastres para ser posta em prática. Só assim poderemos confiar em que, no futuro, não se tenha de viver, novamente, algo tão doloroso e traumático como o incêndio do último domingo.