quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Vacuidade

Vivemos num mundo frívolo e superficial, e a produção cultural reflete isso, pois é de uma terrível pobreza. Numa época dominada pelo consumismo, a forma é exaltada, e o conteúdo é desprezado. O avanço acelerado da tecnologia e da informática impactam a vida de todos e as relações entre as pessoas. Hoje, quase todos estão "conectados". Se não estão, sentem-se excluídos. A era digital caminha a passos largos. As transformações sociais se dão de forma tão rápida e acentuada que torna-se difícil assimilá-las. Com isso, há quem se preocupe em se antecipar às "novas tendências", em identificar para onde sopram os ventos. Com base em tais intenções, o grupo de comunicação RBS, do Rio Grande do Sul, promoveu,  na terça-feira, um evento intitulado "Vox 2014". Conforme o título da matéria de um dos jornais do grupo sobre o acontecimento, o mesmo visava à "escuta das vozes do futuro". O evento, que deverá ter edições anuais, constou da realização de palestras durante todo o dia, que puderam ser assistidas por 400 pessoas no local em que se realizavam ou por televisão e internet pelos demais interessados. Os palestrantes, em grande número, eram pessoas dos setores mais diversos. Nesse grupo tão heterogêneo havia uma chefe de cozinha, jornalistas, músicos, humorista, apresentador de televisão. Tentei, de todas as formas, encontrar um eixo nesse evento, um fio condutor. Não consegui. O "Vox 2014" foi elaborado a partir de um estudo realizado pela cineasta Flávia Moraes sob encomenda do Grupo RBS. De acordo com a promotora do encontro, o trabalho de Flávia enumera "valores vitais para quem produz ou consome informação na nova era". Toda essa argumentação não consegue esconder uma enorme vacuidade nesse tipo de evento. Desde que a presidência do grupo mudou de mãos, chegando à terceira geração da família que o fundou, a preocupação em ser "moderna" e preparada para os "desafios dos novos tempos" tem sido uma marca da RBS. No entanto, no terreno prático, nada tem se constatado. Seu principal jornal, "Zero Hora", por exemplo, passou, recentemente, por uma reforma que empobreceu seu conteúdo e sua apresentação visual. O jornalismo, que deveria ser o cartão de visitas do grupo, sofre com constantes levas de demissões. A busca de "modernidade" da empresa carece de foco e de precisão, é difusa e inconsistente. Reflete o seu atual comando, que é um repositório de intenções vagas e sem método de como enfrentar os desafios do que "está por vir". No fundo, não passa de uma ladainha modernosa sem nenhum sentido.