domingo, 4 de dezembro de 2011

Sócrates

A morte do ex-jogador Sócrates, na madrugada do dia em que aconteceu a última rodada do Campeonato Brasileiro, impactou o meio futebolístico. Sócrates era uma figura marcante do futebol, disputou duas Copas do Mundo pela Seleção Brasileira, foi um dos maiores ídolos do Corinthians. Era, também, um homem de posições fortes e engajado politicamente. No ínício dos anos 80, liderou a chamada "democracia corintiana", que buscava estabelecer novos parâmetros nas relações entre clubes e jogadores com medidas, por exemplo, como o fim das concentrações antes dos jogos. Sócrates faleceu com 57 anos, uma morte que pode ser considerada prematura, dada a expectativa de vida cada vez mais larga nos dias de hoje. Porém, quem vinha acompanhando o que acontecia com Sócrates nos últimos tempos não foi pego de surpresa pela notícia. Essa era a terceira internação de Sócrates em quatro meses. O ex-jogador já havia revelado que sofria de cirrose hepática devido ao alcoolismo. Sua aparência física denotava a precariedade de seu estado de saúde. Sócrates tinha um rosto precocemente envelhecido, uma aparência cansada, apresentava-se desmazelado. Sua imagem era a de quem havia perdido o rumo. Mesmo sendo um homem esclarecido, formado em Medicina, e um ídolo de um grande clube como o Corinthians, a vida parecia pesar sobre os seus ombros. Aparentemente, era daquelas pessoas que apresentam um permanente desconforto existencial, uma sensação de inadequação ao meio que o cerca. Depois que parou de jogar, Sócrates parece ter se desencontrado definitivamente. Não se firmou como médico. Não abraçou a carreira de técnico, embora tenha tido experiências na função em pequenos clubes. O passado exitoso não o sustentou animicamente. Sócrates tinha uma visão de sociedade ideal muito distante da existente no Brasil. Admirava o modelo implantado em Cuba e deu a um de seus filhos o nome de Fidel Brasileiro. Como tantos visionários, Socrátes não suportou o peso da realidade. Morreu cedo, mas deixou sua marca. Será lembrado por suas jogadas de calcanhar, sua participação na grande Seleção Brasileira de 1982, por tomar parte na campanha das eleições diretas para presidente da República. Vai-se o homem, fica o personagem histórico.

Um final sem surpresas

A última rodada do Campeonato Brasileiro acabou determinando que a competição tivesse um final sem surpresas. Como se esperava, o Corinthians ficou com o título, o que é bastante justo para quem liderou 25 das 38 rodadas. O Vasco fez uma campanha elogiável, mas não conseguiu superar o Corinthians, ficando com um digno vice-campeonato. O Fluminense, que há algumas rodadas tinha tudo para ser o campeão, obteve a última das vagas diretas para a Libertadores. Flamengo e Inter disputarão a pré-Libertadores. Os resultados dos jogos que estabeleceram essa definição de posições foram bastante lógicos. Corinthians e Vasco não foram além de empates, o que é normal, pois enfrentaram seus maiores rivais, Palmeiras e Flamengo, respectivamente. O Fluminense também empatou, com o Botafogo, outro resultado normal em se tratando de um clássico. O Inter ganhou do Grêmio, o que já era esperado por todos, e ainda contou com a incrível bobeada do Coritiba, que se deixou derrotar pelo já rebaixado Atlético Paranaense, entregando de bandeja a vaga na pré-Libertadores para o clube gaúcho. Como se tratava de mais um confronto entre grandes rivais, no entanto, a derrota do Coritiba não chega a ser uma "zebra". O único jogo "estranho" foi Cruzeiro x Atlético Mineiro. O Cruzeiro ganhou por 6 x 1, goleada que é a maior da história do clube sobre o Atlético Mineiro. Como pode um time que fazia uma campanha tão ruim, e que jogou desfalcado, ganhar uma partida contra o seu maior rival por um placar tão elástico? Nem mesmo o fato de que o Cruzeiro estava mobilizadíssimo na busca de fugir do rebaixamento e o Atlético apenas cumpria tabela podem explicar um resultado como esse. De qualquer forma, dos dois outros clubes interessados no jogo, só o Atlético Paranaense poderá chiar, pois ganhou sua partida contra o Coritiba e, no caso de uma derrota do Cruzeiro escaparia do rebaixamento. O Ceará não terá como reclamar, pois não fez a sua parte e perdeu para o Bahia por 2 x 1. Outra goleada da rodada foi Atlético Goianiense 5 x 1 América Mineiro , que classificou o clube goiano para a Copa Sul-Americana. O São Paulo também ganhou de goleada, 4 x 1 sobre o Santos, mas de nada adiantou, pois a vitória do Inter o deixou fora da fase prévia da Libertadores. Terminado o Brasileirão, o balanço que se pode fazer é de que foi um campeonato emocionante, decidido, mais uma vez, na última rodada, mas que foi fraco tecnicamente. O campeão Corinthians, apesar dos méritos inegáveis de sua conquista, está longe de ser um grande time. O Vasco, embora a ótima campanha, também não é um time de exceção. Os grandes clubes brasileiros possuem times que se equivalem nas virtudes e nos defeitos. Para 2012, seria desejável que a competição permanecesse emocionante, mas que o nível técnico melhorasse substancialmente.