segunda-feira, 20 de abril de 2020

A nostalgia como solução

Em tempos difíceis, quando o presente é opressivo e o futuro incerto, a recordação de épocas felizes é um recurso irresistível. Com o futebol parado, os canais de tevê a cabo especializados em esportes exibem jogos antigos de clubes e da Seleção Brasileira. A exibição dos seis jogos da Seleção na conquista da Copa do Mundo de 1970, no México, trouxe de volta um encantamento com o futebol que os mais velhos não conseguem mais ter, e os jovens nunca conheceram. Em princípio, ver ou rever jogos realizados há 50 anos pode parecer pouco interessante. Nada mais equivocado. A Seleção de 70 é tão mágica, com sua constelação de craques, que assisti-la é degustar um banquete. Não por acaso, foi escolhida, por uma publicação da Inglaterra, a melhor equipe de futebol de todos os tempos. Olhando atentamente todos os jogos, verifica-se que só três jogadores estiveram num nível abaixo do restante da equipe, Félix, Brito e Piazza. Ainda assim, Félix não foi um goleiro tão comprometedor como disseram alguns. Oscilou entre boas defesas e falhas eventuais. O problema, mesmo, esteve na dupla de zaga. Brito era um zagueiro eficiente, com uma longa e digna carreira por vários grandes clubes brasileiros, mas lhe faltava uma maior qualidade técnica. Piazza era um jogador de alto nível, mas jogou improvisado e não tinha a rotina da posição. O sempre menosprezado Everaldo, no entanto, não faz parte desse grupo. Defensivamente, foi quase perfeito e, mesmo apoiando pouco, quase marcou dois gols, um contra a Romênia, num chute de longa distância, e outro na decisão com a Itália, dentro da área, após receber um lançamento de Pelé. Depois de ver jogos tão fascinantes, fica ainda mais compreensível porque, quando se enfrentam dias amargos, se busca a nostalgia como solução.