segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A mercantilização da saúde

A revista "Veja" traz, nas páginas amarelas de sua edição dessa semana, uma entrevista com Edson de Godoy Bueno, que vendeu 60% das ações da Amil, a maior operadora de planos de saúde do Brasil, para a empresa americana United Health Group. O interessante na entrevista de Bueno, que já era milionário e aumentou ainda mais a sua fortuna, é a maneira como encara os planos de saúde privados. Para ele, percebe-se por suas respostas, trata-se de um bom negócio como outro qualquer. Os planos de saúde privados, no Brasil, cobram caro e atendem mal a sua clientela, mas tornaram-se necessários diante da   perspectiva, aterradora para a maioria das pessoas, de depender do Sistema Único de Saúde (SUS). A venda de ações da Amil, por certo, trará mais prejuízos aos adquirentes dos seus planos, pois a United costuma trabalhar em regime de coparticipação, isto é, o cliente paga uma parte da consulta. Bueno, no entanto, é a favor da coparticipação. Para o empresário, esse é um sistema mais eficiente e justo, pois cobra do paciente uma taxa que desestimula a ida ao consultório sem necessidade, mas não impede o atendimento quando for preciso. "Aumentando a produtividade é possível melhorar o atendimento sem aumentar custos", argumenta Bueno, como se estivesse falando de produção industrial, e não de vidas humanas. Bueno rebate as críticas aos planos privados de saúde, e diz que eles atendem bem à sua clientela. Ele critica o usuário brasileiro de classe média que, conforme diz, quando vai para o hospital, não quer nem ouvir falar em enfermaria. "O paciente precisa é de um bom atendimento, não do melhor quarto", declara Bueno. Dentro de seu pragmatismo, Bueno propõe, para os clientes de baixa renda, unidades que possibilitem a realização de exames de madrugada, pois não vê mal algum nisso. "Ao criar produtos para essa faixa de renda, é preciso considerar que, se o paciente não que esperar um mês para fazer um exame, talvez tenha de fazê-lo à noite e até de madrugada", afirmou Bueno. Ler as atrocidades ditas por Bueno só teve um efeito prático sobre mim, que foi o de aumentar minha ojeriza à economia de mercado.