segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Lobos em pele de cordeiro

Há segmentos da sociedade que enxergam tudo sob a perspectiva do lucro, do ganho financeiro. Diante de qualquer entrave à sua sede de realização de "bons negócios" queixam-se da excessiva burocracia ou de posturas governamentais que não favorecem o "empreendedorismo". São lobos em pele de cordeiro, vilões posando de vítimas. Esse é o caso do setor da construção civil. O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS) queixa-se de que o setor está atravessando um período de dificuldades devido à demora para aprovar novos projetos em Porto Alegre. Entre as causas de tais dificuldades estariam a falta de informatização de dados por parte da prefeitura, a Lei Kiss, que tornou mais rígida a prevenção contra incêndios nas edificações no Estado, e o processo de licenciamento ambiental, que seria demasiadamente lento. A questão da informatização de dados é meramente burocrática, mas as outras duas mostram claramente o confronto entre os interesses maiores da sociedade e a sede de lucros por parte dos construtores. Uma lei que amplie o rigor na prevenção de incêndios em edificações é algo para ser saudado, não para ser visto como um empecilho. O licenciamento ambiental também é um fator de extrema relevância antes de se aprovar qualquer nova construção. Por trás do discurso modernoso de que a cidade é que sofre prejuízos, que o mercado fica engessado para oferecer opções aos interessados, e outros argumentos do mesmo gênero, está a avidez por ganhos que resulta numa expansão imobiliária que agride o espaço físico das cidades com prédios altos, causando-lhes prejuízos estéticos e ambientais. O município de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, por exemplo, está tomado por prédios gigantescos, até com mais de 70 andares, que projetam sua sombra sobre a beira-mar, impedindo o banho de sol. Isso sem contar todos os danos ambientais que prédios de tamanho porte causam. Agora, intenta-se fazer algo semelhante em Torres, no litoral norte do Rio Grande do Sul. Os defensores da "sociedade de mercado" acusam de retrógrados todos os que se opõem a sua visão de mundo, caracterizada pela busca incessante de lucros, sobrepondo-se aos mais legítimos interesses da coletividade. Seu discurso bem articulado é puro disfarce, capaz de impressionar alguns incautos. Na verdade, os administradores públicos, ao serem mais exigentes na autorização para novos empreendimentos imobiliários, nada mais estão fazendo do que cumprir com seu compromisso precípuo com os cidadãos. O ideal, inclusive, seria que sempre agissem assim. As queixas da construção civil, portanto, são improcedentes. Não passam de mero esperneio de quem coloca os seus interesses setoriais acima dos da população como um todo.