sábado, 21 de março de 2015

Criatividade

Vivemos numa época em que o estímulo à "inovação" e à "criatividade" se tornaram uma pauta obrigatória para pessoas e empresas. O impressionante avanço da tecnologia faz com que a sensação de obsolescência seja uma constante, é preciso "modernizar-se" ou se ficará para trás. No entanto, tanta busca pelo novo pode redundar numa grande vacuidade, na falta de propósito. Essa impressão me surge, por exemplo, quando leio uma matéria como a publicada na edição de domingo do jornal "Zero Hora" (que já circula no sábado), intitulada "Tudo ao mesmo tempo agora". A reportagem em questão trata do festival South by Southwest, uma maratona de seis mil eventos, distribuídos em 10 dias, na cidade de Austin, no estado do Texas (EUA). Em função do festival, a cidade recebe, nesse período, cerca de 300 mil visitantes. Os eventos são os mais diversos, e podem incluir palestras, a estreia de um filme, shows de grupos musicais, documentários, painéis. Tudo isso sem um fio condutor, pois a marca do festival parece ser a diversidade. Porém, por mais que me esforce, só consigo ver em tais acontecimentos muita imprecisão. Os promotores e participantes desse tipo de evento falam, repetidamente, em criatividade. Essa palavra parece exercer um efeito mágico sobre muitas pessoas, hoje em dia. Porém, para se criar algo é necessário, antes, ter um objetivo. O "tudo ao mesmo tempo agora" que caracteriza o festival é mais uma demonstração da constante dispersão que se verifica no comportamento das pessoas nessa época de evolução tecnológica acelerada. Paira no ar a ideia de que se pode tudo, de que estamos num estágio da humanidade em que o céu é o limite. Daí para se falar em ideias revolucionárias e na já referida criatividade, é um pulo. O festival é descrito, no texto, como o "maior evento de criatividade do mundo". Para mim, essa é uma definição extremamente vaga. Parece uma busca por algo que não se sabe exatamente o que é. Sobra vontade, falta foco.