segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A renúncia do Papa

O Papa Bento XVI anunciou a sua renúncia. Bento XVI permanecerá em sua função somente até o próximo dia 28. A notícia, por certo, causou grande surpresa para todas as pessoas, católicas ou não. A última renúncia de um papa de que se tem conhecimento ocorreu em 1415! Em princípio, todo aquele que assume a condição de papa, sabe que o posto é vitalício, isto é, seu ocupante só sai dele morto. Porém, o instrumento da renúncia é permitido, e Bento XVI fez uso dele. Embora não seja religioso, considero elogiável a atitude de Bento XVI. Sua explicação sobre a decisão que tomou me pareceu bastante convincente. Bento XVI reconheceu que a dor e o sacrifício também fazem parte da vida de um papa, mas argumentou que, diante de um mundo de constantes e aceleradas mudanças, um papa tem de dispor de saúde física e mental. Como sente que, nos últimos tempos, sua saúde tem se tornado acentuadamente mais precária, Bento XVI optou pela renúncia. Uma atitude corajosa, mas, sobretudo, ponderada. Ao tomá-la, Bento XVI deve ter se lembrado de seu antecessor, João Paulo II, que permaneceu como papa até o fim, tendo mostrada ao mundo uma dolorosa decrepitude física, causada pela idade avançada somada a uma série de graves enfermidades. Na tentativa de, quem sabe, através da exposição de seu martírio, encaminhar um futuro processo de canonização, a Igreja atentou contra a própria dignidade do ex-pontífice, e chocou os católicos de forma desnecessária. Claramente, em seus últimos meses de vida, João Paulo II era um papa só no aspecto formal. Vergado pelas enfermidades que lhe acometiam, não tinha condições de exercer a função de fato. Sabendo disso, Bento XVI não quis o mesmo roteiro para si e para a Igreja. Uma matéria da revista "Veja" publicada há algumas semanas, dava conta da extrema fragilidade de seu estado de saúde, o que fazia com que se considerasse pouco provável a sua vinda ao Brasil para o Encontro Mundial da Juventude, em julho próximo. A renúncia hoje anunciada, confirma o teor da matéria, e mostra um homem que escolheu a racionalidade, antes de qualquer outra coisa, para tomar sua decisão. Uma atitude incomum, e, por consequência, surpreendente, mas consciente e lúcida.