sábado, 13 de abril de 2013

A escalada da violência

Não há como negar que a violência atingiu níveis altíssimos no Brasil. Ela se espalha por todos os lugares. Se os grandes centros convivem com ela há muito tempo, também as pequenas comunidades passaram a ser  assoladas por episódios de brutalidade. A sociedade, assustada, sai em busca de soluções. Como não poderia deixar de ser, o simplismo e o imediatismo caracterizam as proposições em torno do assunto. Mais uma vez, por exemplo, sugere-se a redução da maioridade penal como uma das formas de atacar a questão da violência. A ideia, prevalente em muitas pessoas, é a de que se há aumento da violência é porque existe frouxidão das autoridades, leniência das leis, impunidade, falta de "pulso" para "enquadrar" os criminosos. Em relação à redução da maioridade penal, o que se argumenta é que se, aos 16 anos, um jovem já pode votar, ele também deve responder pelos seus atos. Se alguém se opõe a tais argumentos, logo ouve, em tom provocativo: "Ah, tu é da turma dos direitos humanos"? Ou ainda: "Já sei, vais dizer que a causa da violência é a desigualdade social". A violência não tem apenas uma, mas várias causas. Elas precisam ser devidamente identificadas, para que possam ser combatidas. Para que se entenda melhor esse aspecto, podemos comparar a escalada da violência com uma febre alta que se abata sobre uma pessoa. A primeira providência, é óbvio, será tomar um antitérmico, para eliminar a febre. Feito isso, contudo, será necessário investigar o que causou a febre, já que ela é apenas um sintoma, não a doença em si. Se tal não for feito, chegará um momento em que o remédio não dará mais conta de debelar a febre, e a pessoa morrerá de uma infecção generalizada. Aumentar a repressão, endurecer a lei penal, e outras medidas do gênero, são ações que tratam apenas dos efeitos, sem buscar as causas. Entre as razões para o aumento da violência estão o culto ao consumismo desenfreado e o empobrecimento das relações pessoais. Com a hegemonia mundial do capitalismo, o ser humano foi reduzido a condição de consumidor e destituído da dignidade que lhe é própria. Só o que importa é adquirir bens e objetos, acumular dinheiro, "se dar bem". Mergulhados nesse caldo de cultura, muitos optam, diante da falta de perspectivas concretas para obter esse padrão de vida almejado, pela via do crime. Claro, medidas de combate e repressão ás ações criminosas não podem, em qualquer época, deixar de serem tomadas. Porém, quando a violência aumenta de maneira significativa é preciso um choque civilizatório. A humanidade, como um todo, precisa repensar os seus valores. Caso contrário, irá aumentar, progressivamente, a dose do antitérmico, até morrer vitimada por uma doença que se recusou a tratar.