domingo, 15 de janeiro de 2012

Uma visão muito peculiar

A revista "Veja", da Editora Abril, segue, de forma cada vez mais ardorosa, com a defesa irrestrita do capitalismo. Na edição dessa semana, a revista traz na capa o milionãrio brasileiro Eike Batista. "Veja" afirma que Batista é um ídolo dos novos milionários brasileiros. Tais milionários, segundo a publicação, são pessoas que trabalham muito, competem honestamente, orgulham-se de "gerar empregos" e não se envergonham da riqueza. O exibicionismo desvairado de Eike Batista, que mantém dois carros de luxo, um Mercedes-Benz e um Lamborghini, no hall de entrada de sua casa, é louvado pela revista, em vez de condenado por tão estúpida ostentação. "Veja" chega a afirmar que muitos já consideram Batista "a maior personalidade do Rio de Janeiro". O empresário prognosticou que, já em 2015 ou 2016, será o homem mais rico do mundo. Ao longo da matéria, são feitos elogios em cascata ás virtudes do capitalismo e é exaltado o fato de que os novos milionários não tem vergonha de serem ricos. Conforme a publicação," o Brasil, finalmente, vem se livrando do preconceito contra a riqueza e o sucesso". O curioso é que, na mesma edição da revista, uma matéria aborda o "engessamento dos empregos", causado pela excessiva rigidez da legislação trabalhista brasileira. "Veja" condena o fato de que a lei impede a redução do salário dos funcionários, o que, em períodos de crises agudas, permite a manutenção dos empregos. O aumento do aviso prévio, recentemente instituído, o alto custo da formalização do emprego, a multa para a demissão sem justa causa, o excesso de processos trabalhistas e o entrave à livre negociação entre patrões e empregados, também são fortemente criticados por "Veja" como fatores inibidores da geração de novos postos de trabalho. Trata-se de uma visão de mundo muito peculiar. Para um lado, a garantia de cumprimento dos contratos, do direito ao lucro e à propriedade, de um enriquecimento sem culpas. Para o outro, redução salarial, ausência de indenização nas demissões sem justa causa, diminuição de direitos, flexibilização das leis trabalhistas. O pior é que tal receituário, absurdamente elitista e socialmente predatório, é tido como moderno, em contraposição à busca de garantia dos direitos dos trabalhadores, vista como ultrapassada. Se ser moderno é viver no modelo de sociedade preconizado por "Veja", prefiro voltar para a Idade da Pedra.