segunda-feira, 11 de junho de 2018

Uma Seleção sem povo

Talvez nunca tenha se visto tão pouca conexão entre a Seleção Brasileira e o torcedor às vésperas de uma Copa do Mundo. As redes sociais e as interatividades dos veículos de comunicação registram muitas manifestações contrárias à Seleção. Também não são poucos os que afirmam que não estão nem aí para a Copa. No caso específico da relação da Seleção com a torcida, as razões para o atual quadro são muitas, e já vem de algum tempo, sem que os responsáveis pelo futebol brasileiro façam nada para que ele seja alterado. O estopim da situação teve início, provavelmente, com o comportamento da Seleção na Copa de 2006, na Alemanha. Na ocasião, a Seleção era considerada, dentro e fora do país, como a franca favorita para ganhar o título. Afinal, a Seleção era a detentora do título e havia sido finalista das três Copas anteriores. Afora isso, a base da equipe campeã em 2002 tinha sido mantida, e acrescida de revelações de alta qualidade. Porém, houve uma enorme reversão de expectativa. Os principais jogadores da Seleção se mostraram displicentes e sem foco, e encararam a Copa com pouco profissionalismo. Não mostraram dedicação, cometeram excessos extracampo. Ronaldo, o maior destaque da Seleção na Copa anterior, e Adriano, a grande revelação surgida no período pós-título, disputaram a competição na Alemanha muito acima do seu peso ideal. Na eliminação para a França, nas quartas de final, Roberto Carlos ajeitava as meias enquanto o lance do gol que desclassificaria a Seleção se desenrolava. De lá para cá, a relação do torcedor com a Seleção não foi mais a mesma, e outros fatores contribuem para uma indiferença crescente. A Seleção joga pouco no Brasil, com exceção das Eliminatórias. A maioria de seus amistosos são realizados na Europa, onde atuam quase todos os jogadores convocados. Alguns jogadores da Seleção jamais atuaram no futebol brasileiro e, portanto, não tem identidade com o torcedor. São os casos de Ederson e Roberto Firmino, por exemplo. Para piorar, os atuais responsáveis pela Seleção nada fazem para reverter esse distanciamento. Pelo contrário, a Seleção tem se esquivado do contato com o público durante todo o período de preparação para a Copa. Acrescente-se a isso o fato de o maior destaque da equipe, Neymar, não ter empatia nem carisma, e tudo se complica ainda mais. Se em 1970 eram todos ligados na mesma emoção, conforme a letra da marchinha "Pra Frente Brasil", de Miguel Gustavo, hoje há um divórcio entre a Seleção e o torcedor brasileiro. Uma Seleção sem povo, voltada para o seu próprio umbigo.