quinta-feira, 12 de abril de 2012

Aliança exótica

A política segue nos surpreendendo. Numa época de composições estapafúrdias, chegou-se ao inimaginável. Na eleição para prefeito de Porto Alegre, em outubro próximo, poderemos ter uma aliança entre o PC do B e o PP! Isso mesmo, um partido comunista concorrendo coligado com a antiga Arena, legenda de sustentação do regime militar! Tudo em nome dos interesses eleitorais. Alguns integrantes do PP resistem á ideia de se coligarem com o PC do B, argumentando, com razão, que tal aliança é uma incoerência ideológica, mas, provavelmente, serão suplantados pelos que apoiam a proposição. Tudo porque a grande estrela do PP do Rio Grande do Sul, a senadora Ana Amélia Lemos, é favorável ao apoio para a pré-candidata do PC do B, deputada federal Manuela D'Ávila. Ana Amélia já está de olho na eleição para governador, em 2014, e sua associação com Manuela, uma campeã de votos, poderia ser um trunfo. Duro é aceitar que, em nome do pragmatismo eleitoral, os perseguidos políticos de ontem selem uma aliança com os seus algozes. Mais do que nunca, a política se mostra como uma atividade dissociada da sociedade, em que apenas os interesses dos partidos são levados em conta, mesmo que afrontem o senso comum. Vivemos uma época em que não há mais qualquer idealismo na atividade política. O interesse eleitoral está acima de tudo, para os proponentes da coligação,  e é em nome dele que são sugeridas essas exóticas composições. A melhor resposta para tais alianças deveria vir das urnas, com o eleitor rejeitando, enfaticamente, essa reunião de ideologias tão díspares. Os partidos não podem ser, apenas, uma sopa de letrinhas. Há que se preservar um mínimo de coerência ideológica. Uma aliança entre esquerda e direita como a que está sendo aventada é uma afronta aos eleitores de ambos os partidos.