segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Escárnio

O futebol, há muito tempo, tornou-se uma "ilha da fantasia" Transformado num negócio milionário, paga quantias astronômicas para seus profissionais. Técnicos e jogadores embolsam, num único ano, ganhos que um trabalhador comum não consegue durante toda a sua vida profissional. Enquanto, no mundo real, pessoas se esforçam, estudam, se aprimoram, fazem cursos de graduação, especialização e doutorado e, ainda assim, auferem rendimentos modestos, na bolha fantasiosa do futebol um salário de, por exemplo, R$ 50 mil, é considerado baixo. Enquanto a Espanha contorce-se numa crise que faz com que 25% de sua população esteja desempregada, jogadores do Real Madrid e do Barcelona recebem fortunas a cada mês. No Brasil, um país de enorme desigualdade de renda, onde pessoas morrem nas filas dos hospitais, os salários do futebol também já atingiram níveis obscenos. Uma demonstração disso ocorreu com o técnico Mano Menezes, quando de sua recente demissão da Seleção Brasileira. Mano Menezes recebia um salário de R$ 517 mil mensais para treinar a Seleção. Ao ser demitido, recebeu da CBF cerca de  R$ 4,3 milhões.  Foram R$ 2,8 milhões pela rescisão de contrato,e R$ 1,5 milhão do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Tudo isso por um trabalho pífio, que resultou na mais baixa colocação da Seleção Brasileira no ranking da Fifa, 18º lugar, onde se encontra atualmente. Como explicar para alguém que trabalhe de sol a sol, sacrificando, muitas vezes, sua saúde e sua convivência com a família, e, mesmo assim, recebendo um salário minguado, que o técnico da Seleção, uma equipe que se reúne sazonalmente, ganhe tanto para exercer o seu ofício? Para se ter uma ideia, antes da última Copa do Mundo, em 2010, quando ainda era treinada por Dunga, a Seleção só realizou dois amistosos nos últimos oito meses antes do início da competição. Eis aí o emprego ideal, pois trabalha-se pouco, recebe-se muito e, mesmo que os resultados sejam insatisfatórios, se é recompensado com uma rescisão de contrato milionária. São muitos os interesses que gravitam em torno do futebol, e, por conseguinte, é numeroso o grupo de pessoas que se beneficia desse estado de coisas. Porém, algo precisa ser feito no sentido de moralizar essa atividade. O futebol é o esporte mais popular do mundo, mas nada justifica esses ganhos nababescos em contraste com a dura realidade dos cidadãos comuns. O que se verifica, hoje, no futebol, é um verdadeiro escárnio em relação aos que tem de, pelo esforço nos estudos e pelo trabalho duro, lutar intensamente para alcançar uma vida melhor.