terça-feira, 1 de abril de 2014

Campanha aberta

A imprensa conservadora brasileira não se preocupa mais em disfarçar suas preferências, e está em campanha aberta contra a reeleição da presidente Dilma Rousseff. A revista "Veja", líder desse segmento editorial, estampa na capa de sua edição dessa semana a seguinte chamada: "Porque quando Dilma cai a Bolsa sobe". A frase faz referência ao fato de que quando Dilma perde em popularidade nas pesquisas, as ações da Petrobrás sobem na Bolsa de Valores. A reportagem sobre o assunto, que traça um panorama trágico da Petrobrás por culpa do governo, assume um tom vergonhosamente parcial em determinados trechos, abandonando as regras do fazer jornalístico e enveredando pelo panfletarismo. Vejam-se alguns excertos: "... em outubro estarão em julgamento pelas urnas os resultados sofríveis da gestão estatizante e intervencionista do governo Dilma e as propostas mais modernas e arejadas do mineiro Aécio Neves e do pernambucano Eduardo Campos"; "Como governadores de seus estados, Aécio e Campos fizeram tudo ao contrário de Dilma, obtendo não apenas aprovação popular, mas um estoque vistoso e irrefutável de políticas públicas da mais alta qualidade"; "O eleitor será apresentado pela oposição na campanha presidencial a resultados obtidos com transparência e meritocracia e que apontam para a revalorização das agências reguladoras, o fim do intervencionismo na economia, a volta do planejamento e das parcerias com o setor privado"; "Enfim, a oposição vai se abastecer dos equívocos e escândalos dos doze anos de governo ideológico e assistencialista, de política externa subalterna aos interesses de Argentina, Venezuela e Cuba". Poucas vezes se viu um exemplo tão gritante de mau jornalismo. Para começar, um dos fundamentos básicos do bom jornalismo é evitar adjetivos em reportagens, eles são cabíveis em textos opinativos, como artigos, crônicas e colunas assinadas. Numa reportagem, ainda que assinada, como é o caso, devem prevalecer a objetividade e a isenção. Os autores da mesma, Róbson Bonin e Malu Gaspar, deixaram de lado essas regras basilares do jornalismo e rechearam seu texto com expressões como "estoque vistoso e irrefutável", e "governo ideológico e assistencialista". Afora ser parcial e panfletário, o texto é de uma estultice alarmante. Como poderia um governo deixar de ser ideológico e assistencialista? A ideia de que as ideologias estão superadas só é passível de ser aceita por um anencéfalo. Somos seres pensantes, logo, ideológicos. Uma vida ou ação política destituída de ideologia é,.simplesmente, impossível. O assistencialismo, sempre criticado pelos defensores da "lei de mercado", é uma tarefa inescapável do Estado, pois cabe a ele auxiliar os desfavorecidos e socialmente marginalizados. Para o bem do país, no entanto, todo esse esforço dos setores conservadores, mais uma vez, vai dar em nada. O governo não irá mudar de mãos.