segunda-feira, 1 de junho de 2015

Arte reprimida

O futebol, o mais apaixonante dentre todos os esportes, tem sofrido duros golpes por força de medidas que visam domar a sua natural passionalidade e torná-lo um espetáculo bem comportado e aburguesado. Os estádios, em nome do "conforto", eliminaram os lugares mais populares. Agora, são construídos com menor capacidade e com cadeiras em todas as localidades, o que encarece o ingresso e inviabiliza a presença de pessoas de menor poder aquisitivo. Também o futebol dentro de campo vem sendo descaracterizado. O futebol arte, que sempre encantou multidões, hoje é visto como algo que ofende os adversários. O lance da "carretilha" de Neymar, no último sábado, na decisão da Copa da Espanha entre Atlhetic Bilbao e Barcelona, no Nou Camp, é um exemplo dessa inversão de valores. Os jogadores e a torcida do Atlhetic Bilbao sentiram-se ofendidos com o lance, o que gerou uma forte reação e um princípio de confusão. Destaque-se que a torcida do clube basco era maioria no estádio, já que o Atlhetic Bilbao exercia a condição de mandante, ainda que a partida tenha sido realizada no campo do Barcelona. O mais incrível é que o próprio técnico e alguns jogadores do Barcelona condenaram a jogada de Neymar. Até mesmo jornalistas brasileiros, que teriam todos os motivos para cultuar o futebol arte, fizeram críticas a Neymar, tachando o lance de provocativo e desnecessário. Houve quem se fixasse no fato de que o jogo já estava no fim e definido em favor do Barcelona, o que faria da carretilha de Neymar uma tentativa de humilhar o Atlhetic Bilbao. Em geral, os jornalistas brasileiros que se aliaram aos censores de Neymar tem pouca idade, e não testemunharam a era de ouro do futebol brasileiro, em que tais jogadas eram abundantes a cada partida. A arte no futebol, antes reverenciada, está sendo reprimida, em nome de uma boçalidade politicamente correta.